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Sem virada na Mega

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É, não foi dessa vez! Os 18 numerozinhos cobertos por riscos de caneta preta em três cartões não foram suficientes para fazer de mim um milionário. A aposta da firma também não deu em muita coisa. Com o dinheiro que arrecadamos, conseguimos fazer algumas dezenas de cartões. Em nenhum deles, no entanto, a sequência premiada estava assinalada. Nem de perto! Entre os participantes do bolão, houve quem atribuísse esse resultado a falta de sorte e quem dissesse que não era a nossa hora. Mas o que talvez não tenha passado pela cabeça de nenhum de nós é que somos muito sortudos, mesmo não dividindo a fortuna.

Me lembro de ter visto uma entrevista com um dos ganhadores certa vez. Um senhor do interior de uma cidadezinha bem pequena. Ele respondia às perguntas ainda meio sem jeito com a notícia. Aquele milionário parecia não saber o que fazer com as mãos, demonstrando claramente o desconforto que sentia em falar do assunto. Inocentemente, ele compartilhou com o jornalista que pretendia comprar umas galinhas, vacas e melhorar o pedaço de terra onde ele e a esposa viviam.

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Tempos depois, o mesmo senhor dava outra entrevista chorando, dizendo que aquele dinheiro tinha acabado com a vida dele. Ele precisou sair da propriedade em que viveu boa parte de sua vida, onde se casou, formou seus laços afetivos, criou raízes e teve seus filhos porque estava sendo ameaçado. Ele não estava preparado para lidar com toda aquela grana. Mas quem está? Quem tem o hábito de apostar na loteria não costuma se questionar se saberia lidar com o dinheiro de maneira saudável.
Outro dia, falava com amigos sobre o valor que as coisas têm. Buscávamos, por meio de algumas histórias, entender porque algumas pessoas acabavam optando por viver uma vida simples, tranquila, com poucos recursos, mesmo quando alguma oportunidade de acesso aparece e dá a chance de melhorar as condições de vida.

Mas chegamos à conclusão de que não é possível medir o que é melhor, porque o formato da régua de cada um é único. Viver bem assume significados muito distintos quando pensamos na subjetividade de cada um. Uma vida de luxo, cercada por passeios, alimentação e ostentação de atividades caras pode não ser o ideal de vida de muita gente, e está tudo bem! Assim como morar no meio do mato, cercado por animais, e levar uma vida mais simples pode ser considerado um luxo por outro grupo de pessoas.

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Há quem tenha a necessidade de sair e ganhar o mundo, enquanto o objetivo de outras pessoas é fortalecer as suas raízes no lugar delas. E está tudo bem nesse caso também. Chegamos no ponto mais importante da questão, que soa muito clichê, mas que deveria ser sempre considerado: tudo muda dependendo do ponto de vista pelo qual se vê as situações.

Passamos tempo fantasiando todas as realizações que o dinheiro da loteria poderia trazer e nos esquecemos de pensar no que ter esse dinheiro representa em uma sociedade como a nossa. Obviamente, há muitas coisas para as quais o montante faria toda a diferença. Mas a pergunta que ficou na nossa cabeça depois de conversar a respeito não foi o que faríamos com o dinheiro, mas o que ter esse dinheiro faria com a gente.

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