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Sem luz

Moradores já teriam feito reclamação junto ao JF + Luz. (Foto do leitor Renato Gama)

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Logo depois de acordar, apanhei uma generosa dose de café na cozinha, um naco de pão e sentei-me em frente à televisão para ouvir as primeiras notícias do dia. Descansei a xícara no peitoril da janela, liguei o aparelho e deixei o sol que entrava pela janela esquentar os pés. Mal tinha começado a racionalizar o que era dito pelo repórter, quando a energia caiu. Pensei que era novamente problema com o registro aqui de casa, coisa corriqueira, que movendo um botão se resolveria, mas era manutenção, e a coisa ia ser mais demorada do que eu previa.

Enquanto eu ficava preocupado com as coisas que tinha para fazer, sem conexão com as informações que chegam via meios eletrônicos, pelo menos 25 pessoas foram assassinadas no Rio de Janeiro, a relação China/Brasil ficava mais tensa, familiares e amigos prestavam homenagem ao ator Paulo Gustavo, mais uma vítima fatal do coronavírus. Além da dele, o boletim epidemiológico informava a morte de outras tantas pessoas anônimas, que são protagonistas nas histórias de suas famílias. Outras muitas notícias ficavam de lado. Todos os dias acordamos com um susto diferente. É como dizem nas redes: “o brasileiro não tem um dia de paz”.

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Me debrucei na janela e ouvi da vizinha que lá a situação de falta de energia elétrica era a mesma. Há sempre identificação entre as pessoas quando dividimos o que nos faz falta. Há também inúmeras batalhas sendo travadas pelas ruas, residências e esquinas. Há pessoas em busca do alimento, do trabalho, da cura. Todos os problemas se agigantam, nos roubando as energias, como os ‘gatos’ que são feitos nas redes de distribuição. Eles nos fazem sentir apequenados e impotentes. A falta de energia elétrica podia ser um problema com reflexos importantes para mim, mas não deixava de ser uma dificuldade pontual e pueril, quando comparada com as lutas de outras pessoas.

A mente foi longe. Disparou, enquanto os técnicos trabalhavam pendurados com seus instrumentos de segurança. O horário de iniciar o meu expediente se aproximava e, com o dia cheio de responsabilidades, não tinha como ficar sem notícias sobre quando a conexão seria restaurada. Fui assuntar com o profissional que dava o suporte ao outro que mexia no poste. Ele me tranquilizou, disse que tudo voltaria ao normal em poucos minutos. Dito e feito. Queria muito encontrar algum outro técnico que conseguisse informar com a mesma precisão e certeza quando toda essa agonia vai acabar. Mas tive que calar, novamente, minhas ansiedades.

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Na curta caminhada que fiz de volta para casa, pensei em como gostaria que os acessos fossem iguais para todas as pessoas e no quanto ele ainda está distante. No entanto, falta luz, falta juízo. Meia hora depois, o serviço foi concluído, o interruptor voltou a responder ao clique com lâmpada ligada. Todavia, as questões que a falta de luz despertou permanecem e seguirão alimentadas pelos dados que chegam pelos fios, pelas redes e pela voz das pessoas.

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