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“Desistir não é uma opção”

Foto: Pixabay

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Foi uma amiga que me contou. Ela tinha acabado de voltar do banheiro. Estávamos em um dos prédios públicos da cidade. Quando ela entrou no cômodo, no chão, uma das funcionárias do local estava sentada. Rodeada por apostilas, cadernos, lápis e canetas, ela se concentrava sobre um conteúdo, quando foi interrompida pela entrada da minha amiga.

Claro que, diante daquela cena, a curiosidade sobre o porquê de a mulher estudar em um lugar impróprio não poderia ficar sem ser respondida. A estudante disse que usava o tempo livre para se preparar para um concurso que pretende prestar. Nem sempre dá tempo. Nem sempre ela pode se dedicar tanto quanto gostaria. Mas ela vai levando.

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Minha amiga perguntou se ela tinha ajuda em casa. Ela respondeu que não conseguia tirar muitas dúvidas com os filhos, porque, quando chega do trabalho, eles já estão dormindo. Mas, aos finais de semana, eles costumam conversar até um pouco mais tarde. No dia seguinte, bem cedo, ela está de pé novamente. O concurso é justamente o acesso que ela vislumbra, para ter mais tempo com os filhos, mais tempo para ela. Mais tempo.

Até aqui, muita gente pode pensar que essa pessoa merece todos os méritos. E merece mesmo. Podem pensar também que ela deve ser mais uma daquelas incríveis histórias de superação, de quem vence barreiras imensas. Mas não é bem sobre isso. É importante perceber a gravidade de uma pessoa precisar estudar no chão de um banheiro público, em seus momentos que deveriam ser destinados ao descanso, para obter o que deveria ser o mínimo.

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Ela deve ter mais tempo para estudar em um lugar que ofereça a ela condições de compreender o conteúdo com tranquilidade. Ela merece ter mais tempo para tirar suas dúvidas com seus filhos e acompanhar o crescimento e o desenvolvimento deles. Ela precisa ter meios de dedicar seu tempo ao lazer e ao descanso também. Como qualquer outra pessoa deve, merece e precisa de tudo isso.

Ainda vamos ver e acompanhar a trajetória de muita gente que encara os mesmos abismos sociais, enquanto as oportunidades seguirem tão díspares. Ouvia esse breve relato e, ao mesmo tempo, pensava onde essa mulher poderia chegar, se ganhasse, por exemplo, R$ 33 mil por mês. Valor que alguns políticos consideram insuficiente para uma vida digna. Mais de trinta vezes o salário mínimo é pouco para eles. Mas o mínimo é, para eles, o suficiente para a grande massa de trabalhadores do país.

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Saí desse papo torcendo muito para aquela mulher. Não sei o nome dela, mas espero que ele esteja presente na lista de aprovados dessa seleção. Espero também que ela, assim como muitos, subverta e vença cada uma de suas dificuldades. E, ao chegar ao seu objetivo, que ela consiga também, de alguma forma, ajudar quem vive uma rotina semelhante. Minha amiga se despediu dela dizendo que só não valia desistir. O que ouviu de resposta foi: “desistir não é uma opção”.

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