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Não vai dar tempo

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Dos maiores mistérios aos quais eu já fui apresentado, o tempo permanece entre os mais intrigantes. Eu não sei como novembro chegou tão rápido desta vez. Há luzes de enfeites natalinos começando a se apresentar em sacadas, e eu nem terminei de digerir os acontecimentos de outubro ainda. Não temos como correr do tempo, a menos que aprendamos a correr junto com ele, e isso implica em deixar muita coisa para trás, um preço muito alto.

Durmo e acordo com a nítida sensação de que não vai dar tempo de dar conta de tudo. Há um infinito arranjo de coisas e aprendizados disponíveis, e a certeza única é a de que não há tempo para todas elas. Essa ideia parece sempre estar acompanhada da palavra prioridade, porém, essa nem sempre está associada ao que queremos ou gostaríamos de fazer. Vez ou outra se limita a um dever, pura e simplesmente. Não deixa, no entanto, de ajudar a dar um norte para traçarmos estratégias.

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O tempo, assim como a nossa cultura passou a conceber, é material escasso, cada vez mais valioso, ainda que a nossa curta percepção, facilmente captada por telas, não alcance essa importância. É válido e relevante lembrar também que são cada vez mais curtos os períodos dedicados ao descanso e ao lazer e, talvez por este motivo, temos a impressão de que eles passem de forma tão acelerada.

Embora a lista de coisas para fazer/aprender seja quilométrica, finalmente, entendi que não dá para atropelar tudo e tentar abraçar o mundo com os dois braços e as duas pernas. Essa ilusão de que conseguimos lidar com tudo, sem falhar em um ponto ou outro do processo, é tempo perdido. Estamos esgotados, sobrecarregados e, cada vez mais, preocupados. O tempo continua correndo.

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Se as coisas estão difíceis para nós, para a natureza estão ainda piores. É mais uma culpa que carregamos. Além de querermos tempo de qualidade para dedicar a tudo, também passou da hora de pensar em como vamos agir para que tenhamos tempo – no futuro. Fato é que estamos atrasadíssimos quando o assunto é tempo (clima). Isso, inclusive, ameaça a nossa sobrevivência.

Aflige ter a consciência de que não vamos ter tempo para tudo, mas é ainda mais difícil lidar com a ideia de ter que lutar ou sofrer as consequências de ações que não tomamos no passado e permanecemos ignorando. O mundo discute formas mais eficientes e propostas que poderão garantir que o impacto seja menor. As falas na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26) causam um espanto absolutamente necessário, fecharam o tempo, com razão.

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Sem o comprometimento sério e urgente dos líderes mundiais, de todos os setores das sociedades e sem a adoção de medidas radicais que nos levem a consumir menos recursos e preservar os existentes, estaremos sujeitos às intempéries, às catástrofes, às tragédias. Se já faltava tempo antes, com essas ameaças todas vindo em nossa direção, e se antes não havia dúvida, agora a afirmação parece ter ainda mais gravidade. A conclusão não pode ser outra: não, não vai dar tempo.

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