Desde que vi o trailer de “O Pequeno Príncipe”, fiquei contando as horas para poder assistir a obra-prima de Saint-Exupéry na telona. Dirigida por Mark Osborne, a adaptação trouxe para o cinema a magia de uma história centrada em valores fundamentais que foi capaz de vencer os tempos e encantar milhares de leitores em mais de 200 línguas. A diversão em família começou dias antes, quando “preparei” meu filho de 4 anos e meio para conhecer o menino loiro, de cabelos rebeldes, que morava no asteróide B-612 e amava uma flor. Meu pequeno até ficou empolgado, mas, confesso: eu estava bem mais ansiosa que ele. Assim, com pipoca, suco e bala devidamente comprados, fomos assistir à animação em 3D.
Logo na entrada, a funcionária que recebia os ingressos parecia estar uma fera:
_ Nunca vi tanta criança sem educação’, disparou, referindo-se ao comportamento dos meninos que haviam acabado de passar pela fila. E completou: – Deus me livre, eu tenho quatro filhos, e os meus não são assim não. Os garotos daqui metem a mão para pegar os óculos do filme. Nem esperam a gente dar…
O incômodo daquela mulher me chamou atenção. Quando as luzes do cinema se apagaram, meus pensamentos vagavam entre a tela e a queixa da senhora que, num momento de desabafo, questionou a educação nos dias atuais. Fiquei imaginando a luta dela para criar quatro filhos. Eu, que tenho apenas um, sempre me vejo em situações difíceis nas quais questiono minha capacidade de ser mãe e de ensinar da maneira certa. Enquanto o aviador perdido no deserto do Saara encontrava-se, pela primeira vez, com o Pequeno Príncipe, eu me perguntava sobre o tipo de adulto que minha geração se tornou. Ao meu lado, um homem roncava tão alto que soltei uma gargalhada, mas, depois, fiquei com pena. Percebi que nos tornamos pais exaustos a ponto de um coitado aproveitar o escurinho do cinema para colocar o sono em dia. Preocupados com o ter, esquecemos de ser a pessoa em que nossos filhos deveriam se espelhar. Vivemos em um ritmo tão frenético que nos falta tempo para o essencial: estar com eles. E quase sempre nos sobra culpa. Damos muitos presentes, mas bem pouco de nós.
De repente, me dei conta de que as melhores lembranças que tenho da infância não são de um brinquedo – embora eu adorasse meu Aquaplay e meu boneco que fazia xixi -, mas dos momentos que tive de convivência em casa, quando lanchávamos juntos em torno de uma mesa animada, na qual falávamos sobre o nosso dia. Assim, mais culpada do que nunca, fiquei me perguntando qual personagem do filme eu era: a Rosa, o Rei, o Vaidoso, o Homem de Negócios ou o Piloto que cruza os céus em busca das estrelas e de seus sonhos?
_ Mamãe, como o filme termina, perguntou Diego, que não teve paciência de assistir à sessão até o final.
_ Com a menina encontrando o Pequeno Príncipe, filho.
_ O que mais, mãe, questionou, curioso.
_ Termina mostrando que, nós, adultos, podemos ser melhores do que temos sido até agora.