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Las Vegas é aqui!

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Pensei em contar na coluna desta semana como foi minha experiência após quase ter morrido de avião, no dia em que a companhia aérea decidiu voar, mesmo sabendo previamente que as condições meteorológicas eram muito ruins. Mas o fato de a empresa ter colocado o dinheiro do negócio acima do valor da vida dos mais de 50 passageiros que viram a aeronave perder a estabilidade do voo por quase 20 minutos não me deixa menos indignada diante dos eventos que assolaram o mundo nos últimos dias.

Enquanto Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas, roubava a cena no noticiário planetário, a insanidade de Donald Trump ficara ainda mais evidente em seu discurso sobre a tragédia. Trump reduziu o evento à ação de um homem “demente”, recusando-se a colocar na mesa a necessária discussão sobre a venda liberada de armas nos Estados Unidos.

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Aqui no nosso quintal, a comoção se deu por conta do vigia de Janaúba, que ateou fogo em si mesmo e nas crianças da creche mineira, atentado que deixou um país atônito e em busca de respostas para o injustificável.

Outra surpresa foi a conduta de um médico do Samu de Mogi Mirim, em São Paulo, que insultou um homem que ligara para o serviço de socorro pedindo ajuda para uma mulher acidentada. Aflito diante do estado de saúde da vítima, o pedestre não conseguiu, de pronto, dar todas as respostas que o médico solicitara. Irritado, o socorrista passou a pronunciar palavrões ao telefone, classificando o responsável pela chamada telefônica de imbecil. Como alguém tão despreparado e intolerante pode ocupar uma função tão relevante quanto a de um médico emergencista que, em tese, é capaz de manter a calma quando todos a perderam?

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O estranhamento só não foi menor do que assistir o promotor de Justiça de São Paulo, José Avelino Grota, reproduzir em sua fala o discurso de ódio e preconceito que toma conta do Brasil. Julgando estar seguro entre os seus, ele afirmou nas redes sociais, no grupo MP/SP Livre, que “negro em geral é catinguento, fede demais” e que a feiura está ligada à condição social. Suas declarações desconectadas da realidade não só sobre pessoas negras, mas pobres, mostraram o tamanho do abismo no qual estamos mergulhados. O homem classificou, mais tarde, seus comentários de “ironia”. Irônico mesmo é perceber que pessoas pagas para defender o interesse da sociedade são incapazes de fazê-lo.

Ao final de uma semana turbulenta e da qual saio viva, chego à conclusão que Las Vegas é aqui. Matamos a esperança e a dignidade humana sem sequer apertar o gatilho.

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