Esta semana, uma cena me deixou profundamente incomodada. Funcionários da limpeza urbana cumpriam seu trabalho debaixo de chuva, certamente para que a escala de horários fosse mantida e nenhum morador da cidade ficasse com o seu lixo na porta de casa ou de estabelecimentos comerciais. Dos três profissionais que se equilibravam na caçamba de um caminhão do Demlurb, um era mulher. Sempre pensei que esse método arcaico de coleta precisava ser substituído por outro que ofereça mais dignidade para quem exerce a função. O fato é que a tarefa insalubre e estressante, realizada à noite e em condições adversas na Avenida Olegário Maciel, despertou, mais uma vez, a minha admiração por esses anônimos que retiram das ruas o que existe de mais detestável: os restos que ninguém quer.
Quando o caminhão do Demlurb parou para que novos sacos fossem recolhidos da calçada, um homem que guiava seu belo modelo de carro começou a buzinar insistentemente. O egoísta, confortavelmente protegido do temporal dentro do veículo, não podia se dar ao luxo de esperar que aqueles trabalhadores concluíssem sua tarefa. Pelo contrário. O sujeito tinha pressa, a pressa dos tolos, daqueles que acham que o mundo inteiro deve girar ao seu redor, incapazes de entender o que é bem comum.
Na contramão daquele episódio, está um brasileiro que, recentemente, deu uma aula de cidadania ao esperar na fila a sua vez de renovar o passaporte. O juiz Sérgio Moro, homem controverso, mas que na Operação Lava Jato tem feito uma faxina nos contratos irregulares assinados por empresários junto à Petrobras, teria passado despercebido na agência da Polícia Federal se sua foto não tivesse caído nas redes sociais e sido compartilhada milhares de vezes. Considerado uma das pessoas mais influentes do Brasil na atualidade- apesar das críticas de arbitrariedade que pesam contra ele -, Moro comportou-se como alguém que respeita as normas e o outro. Não deu carteirada, não reclamou, simplesmente esperou a sua vez.
Enquanto o apressadinho do carro se indigna com a corrupção que assola o Brasil, embora se mostre incapaz de fazer a sua parte, o outro tem consciência de que é parte na transformação do país. Se não modificarmos nosso comportamento, continuaremos espalhando lixo por onde os outros passam. Um país civilizado não se constrói sem comprometimento coletivo. Se houvesse uma palavra de ordem para o atual momento do Brasil, ela seria: reciclagem, já!