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Quem é o outro mesmo?

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Há poucos dias, eu almoçava na praça de alimentação de um shopping, quando observei dois adolescentes sentados à minha frente. Durante quase uma hora, eles não trocaram nenhuma palavra. Nada. De vez em quando, o menino e a menina se valiam da agilidade de seus polegares na tela dos celulares colocados estrategicamente ao lado do prato.
Curiosa diante da ausência de diálogo, lá fui eu movimentar o dia deles.

– Olá, sou jornalista. Posso fazer uma pergunta?
Com má vontade, o garoto tirou o foco do aparelho e me olhou com aquela cara do tipo… “lá vem a tia chata”.
– Então, vi vocês sentados à mesa. São amigos?
– Sim, respondeu o jovem magro e alto com cabelo castanho à la Justin Bieber.
– Quando vocês conversam?
– A gente se entende bem assim. Quando dá vontade de trocar ideia, usamos o whatsApp.

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A curta resposta do adolescente me fez pensar sobre o caminho das relações humanas em uma sociedade voltada para a virtualidade. Mergulhados na internet, nunca estivemos tão conectados como agora. Mas vivemos presos a aparelhos que encurtam distâncias, porém criam abismos de convivência no mundo real. Exagero? Vá a um local público e observe. A maioria das pessoas passa o tempo digitando. Nos restaurantes, as mesas se transformam em verdadeiras ilhas, com gente que apenas senta junto, mas navega por destinos diferentes. Muitos presentes estão ausentes, esquecidos de prestar atenção em quem está ao seu lado. Aliás, quem é o outro mesmo?

Refletindo sobre os meus dois personagens, lembrei-me do sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Em uma de suas entrevistas, o velho mestre descreveu sua experiência com um aluno que se gabou por ter feito 500 amigos nas redes sociais em um só dia. Sábio, o professor sorriu:
– Quinhentos amigos? Puxa… Eu que tenho mais de 80 anos não fiz 500 amigos em toda a vida.

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Certamente, Zygmunt se referia à difícil, porém enriquecedora chance do contato. Se na internet é fácil dizer adeus para quem não corresponde aos seus anseios – para isso basta usar o botão de deletar -, no mundo de carne e osso, os laços humanos são infinitamente mais complexos e por que não dizer mais verdadeiros, prazerosos e profundos?
O fato é que, se gastamos mais tempo teclando do que convivendo, corremos o risco real de nos vermos sozinhos em meio a uma multidão de amigos.

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