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Fi-lo porque qui-lo!

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Fartos da corrupção que assola o país, muitos brasileiros parecem estar dispostos a aceitar qualquer coisa, já que tudo “é melhor do que a roubalheira do PT”. De fato, o revoltante assalto aos cofres públicos nos últimos 16 anos gerou um passivo para o país que é sentido no desemprego em massa de mais de 13 milhões de pessoas. Mas usar a corrupção como medida para aceitar o inaceitável é uma troca, no mínimo, perigosa, já que o resultado pode afetar não só a nossa geração, mas as próximas. E a conta vai chegar, sim, para todos nós. A pergunta é: daremos conta de pagar?

Eu me refiro a um governo que se tornou especialista em manipular verdades. Aliás, só é verdade o que o mandatário da nação decidir como verdade. O resto é “fake news”, palavrinha que colou tão bem que não é mais necessário lidar com fatos, apenas versões. Vejamos a guerra de versões que assola o Brasil nos últimos dias e para isso cito o texto da jornalista Eliane Brum. A presidência decidiu que ninguém mais passa fome no Brasil. Fome? O que é isso mesmo? Decidiu que o Inpe mente quando fala do desmatamento da Amazônia, onde só no mês de julho de 2019 foi destruída uma área da floresta maior do que a cidade de São Paulo. Também ficou decidido que meio ambiente é coisa de “vegano que come vegetais”.

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Acrescento aqui a desmoralização pública da pesquisa da Fiocruz, que não apontou epidemia de crack no país, mas de álcool, droga legal e socialmente aceita. Os números não foram reconhecidos, porque manter o medo da destruição da sociedade pelo crack é estratégico, afinal um país amedrontado não tem forças para reagir à injeção de mais de R$ 150 milhões em comunidades terapêuticas que são alvos de denúncias graves de tortura e maus-tratos. Os novos hospícios.

Sob essa perspectiva, só os carnívoros, impiedosos, têm estômago de avestruz para aguentar tanta arbitrariedade.

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O problema é que essa guerra de versões que desestabiliza as instituições, mais uma vez propositalmente, afeta tudo, principalmente a governabilidade do país. Se não podemos acreditar no que mostram institutos respeitados, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, há um claro sinal de que só devemos acreditar no que a presidência e seus porta-vozes dizem, porque todo o resto é irrelevante, o que é bem típico de governos totalitários.

Esta semana, quando uma parte da nação assistiu estupefata a violação da memória de um desaparecido político que foi morto pelas mãos do Estado, presenciamos o escárnio proferido em rede nacional. É como se o militante merecesse a morte que teve, afinal, a esquerda também matou na ditadura, pensamento bem ao estilo do “olho por olho, dente por dente”. A diferença é que o Estado, cuja função é proteger o cidadão, matou, torturou e usou da máquina pública para violentar leis e qualquer pacto de civilidade.

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Se a corrupção é inaceitável, também é a violência do discurso, o desrespeito aos direitos e o nepotismo escrachado. Que governo é esse que só governa para os seus? Que tenta apagar a história com borracha para escrever a sua própria versão de Brasil?

Os novos descobridores do país se comportam como crianças que, ao serem questionadas sobre seus atos, se limitam a repetir: fi-lo porque qui-lo!

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