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O medo de ser nós mesmos

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O olhar perdido, captado na foto preta e branca da atriz Carolinie Figueiredo, chama atenção. Na imagem sensual, a mulher mostra bem mais do que a blusa aberta exibe. Linda na publicação, ela sofre da angústia de ser ela mesma. Aos 29 anos, Carolinie é um retrato de todos nós. Ao revelar em seu post no Instagram toda a pressão que sofre para gerar conteúdos, ela desabafa: “ando recolhida e a pressão por gerar conteúdo é tão grande que tenho medo de ser esquecida quando chego em lugares de vazios e pausas. Continuarei sendo vista quando eu tiver em suspensão, imersa em processos? Diga, sim, se você quer continuar recebendo meus posts, porque a sensação é que vou sumir aqui, no silêncio. Diga que você me vê mesmo nesses momentos que estou desviando o foco de mim. Diga também se tudo bem seu corpo ser assim como ele é. Lua cheia chegando e eu aqui expandindo de dentro pra fora”, escreveu a mãe de dois filhos que há cinco anos está congelada em espera. Seu último papel na telinha foi em 2013.

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Ver Carolinie foi como enxergar a proximidade do abismo que nos espera. Reduzidos a likes e a aprovação do outro nas redes sociais, estamos nos tornando uma mera representação de nós mesmos. Precisamos parecer bonitos na internet, saudáveis, bem sucedidos, amados, engraçados, admirados. Tudo em nome de uma popularidade medida por cliques na tela. Se os seguidores curtem mais nos ver em determinadas situações, repetimos a dose para alcançarmos outro post bombástico. E seguimos, assim, viciados na droga que é não saber quem somos. Alimentados pelo desejo insaciável de sermos reconhecidos.
Ao criarmos momentos para serem compartilhados, invejados, abrimos mão do que é real. A sensação que tenho é que se não registramos nossas experiências nas redes é como se nós não as tivéssemos vivido. E se ninguém souber onde estamos é como se estar lá tivesse menos significado e, pior, se quem está conosco importasse menos do que um desconhecido que está sempre pronto a apertar o botão de reação.

Quando eu era garota, muito antes da internet existir, havia uma piada machista contada no auge do sucesso da Xuxa. Os meninos diziam que de nada adiantaria estar em uma ilha deserta com a superstar se não houvesse com quem comentar sua façanha. É duro constatar que hoje nos comportamos como os meninos da piada infame. Precisamos de platéia para existir. Precisamos ser vistos, mesmo que os outros enxerguem apenas uma construção de nós mesmos.

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Experimente desligar o celular, o computador, o tablet e viver com você mesmo por um dia. Sem piadas, sem encenações, longe das curtidas das redes sociais. Será que conseguiremos conviver com quem somos? Espero que sim, porque há urgência em nos resgatarmos.

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