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A casa

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Casa é substantivo feminino. Mais que feminino, maternal. Mesmo que nela não haja uma mãe. Casa é barriga que carrega gente. O refúgio mais confortante, mais seguro, isolado das agruras do mundo exterior.
Veja: mundo é substantivo masculino. E o mundo pode ser hostil.
A casa é tão materna que, às vezes, é tida por sinônimo de mãe. “Passa lá na mãe e traz meu tênis.” “Lá na mãe a gente não podia falar palavrão.” Ou de avó, duas vezes mãe. “Vamo encontrar todo mundo lá na vó.”
Uma hora é preciso sair da casa-barriga e se arriscar no mundo. Viver aventuras. É assim pra todos. O momento histórico pelo qual passamos, todavia, exige o contrário disso. É hora de tornar à casa, pois a hostilidade do mundo encarna um vírus mortífero, invisível, sobre o qual se sabe muito pouco.
Conseguiremos então ver a casa não como o lugar de onde se deve sair, mas para onde se deve voltar? Teremos paciência de aguardar, com serenidade e vigilância, o trabalho da ciência? Esperar pelos instrumentos que nos permitirão voltar a andar pelo mundo em relativa segurança?
Nem todos podemos. Somos motoristas de ônibus, caixas de supermercados, enfermeiros, farmacêuticos, policiais, pedreiros, médicos, lixeiros. Temos que nos arriscar no mundo hostil, a armadura uma máscara de pano.
Mas que ao menos, finda a batalha de cada dia, nos reste a certeza de que, mesmo que não haja uma mãe, a casa será nosso abraço. A configuração concreta da proteção materna. É onde estaremos a salvo.

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