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Fábula dos óculos

óculos

"Mulher de binóculos", de Edgar Degas (The British Museum)

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– Dudu, perdi meus óculos!
– Deve estar por aí em algum lugar.
– Não está, já revirei minha bolsa toda. Ai, esse negócio de máscara é um saco, a gente tira os óculos pra não ficar embaçando e depois nunca sabe onde largou.
Raquel estava realmente chateada.
– Será que eu deixei na loja que a gente foi? Ai meu deus, se eu deixei na loja…
– Não deixou não, deve estar dentro da sua bolsa mesmo, ou então no porta-luvas do carro…
– No carro! No carro! Eu vou lá ver, cadê a chave?
– Na sala.
Cinco minutos e ela voltou desolada.
– Não achei.
– Calma, Margarida – afagou-a o marido. (Ela se chamava Raquel, mas para Dudu seria sempre Margarida.)
– Nossa, eu gostava tanto daqueles óculos…
A conjugação do verbo no passado dava impressão de que Raquel tinha a batalha por perdida. Era preciso consolá-la. Dar-lhe esperança. Os objetos parecem fúteis, mas muitas vezes estão impregnados por alguma memória, por alguma afeição que lhes confere alma. Ou então são apenas caros pra burro.
– Por que você não liga pra loja e pergunta se não ficou lá?
– Tá de noite, Eduardo! E além do mais, você acha que alguém vai devolver alguma coisa pra alguém nesse Brasil? Você tem horas que… deixa pra lá. Vou lá no carro procurar de novo.
E foi, com lanterninha de celular e tudo, revirando o escuro, mas nada feito. Foi uma noite bem ruim. Raquel estava realmente triste. Pela manhã, bem cedo, Dudu trabalhava em planilhas e gráficos, aproveitando a quietude da casa. Raquel trouxe-lhe uma xícara de café.
– Acordou cedo, Margarida. Obrigado.
– Poxa, tô tão chateada com meus óculos.
– Daqui a pouco dá a hora, você liga pra loja.
Ela ligou, mas nada feito. O caso estava encerrado. Não havia mais o que fazer. Quando se esgotam todas as possibilidades, é preciso aceitar a derrota e seguir em frente. Superar a perda. Quando Dudu já começava a procurar na internet por um substituto para os óculos da sua Margarida, de modo a fazer-lhe uma surpresa mais adiante, Raquel irrompeu pela porta e atirou-se em seus braços.
– Achei! Achei!! Tava caído entre os bancos da frente! Achei! Achei!!
E beijou Dudu com a boca de café.
Moral da história: Nunca desista de buscar seus sonhos.
Submoral: De preferência, busque-os à luz do dia.

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