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Cara gente branca

negro
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Deixaremos de ser racistas quando não mais nos assombrarmos com um homem negro dirigindo um Mercedes-Benz que não seja caminhão de lixo.
Quando não mais nos espantarmos com um homem negro de mãos dadas com uma linda mulher branca, com uma mulher preta de mãos dadas com um tipão alemão.
Deixaremos de ser racistas quando não nos causar surpresa um casal de pessoas negras em um restaurante nhenhenhém não ser garçom e garçonete, ajudante de cozinha, porteiro, segurança, mas clientes como quaisquer outros.
Quando despendermos a um técnico de futebol preto a mesma tolerância que reservamos a argentinos, espanhóis e portugueses. Ou a brasileiros caucasianos.
Quando o preto for, para nós, tão bom para desenhar projetos quanto é para carregar tijolos; tão bom para dirigir empresas quanto é para dirigir empilhadeiras; tão bom para pintar quadros quanto é para pintar paredes.
Deixaremos de ser racistas quando extirparmos de nossos cérebros – cérebros brancos e negros também – essa semente daninha que faz parecer natural o preto ladrão e o branco polícia, e o contrário, uma anomalia social.
Essa semente insidiosa está aqui no meu cérebro, caro leitor. E no seu também. É preciso identificá-la e exterminá-la com o veneno da sabedoria. Todos os dias. Doses diárias de esclarecimento. De autocrítica. Até que morra essa praga que nos devora a todos.
E aí talvez tenhamos um Estado-Maior das Forças Armadas com tantos pretos e pretas quanto bastem para representar as cores do Brasil. E o mesmo nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas, no Congresso Nacional. No Palácio do Planalto – e nada mais cafona que “palácio”.
Deixaremos de ser racistas, cara gente branca, quando o “uso de força desproporcional” não for proporcionalmente mais letal quanto mais preta for a cor da pele do alvo que jaz, inerte, asfixiado sob o braço forte de nossa pátria mãe gentil.

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