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O meu universo se expandiu em milhares

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Na companhia do professor Cláudio Melo, velho conhecido das artes e dos ofícios, espero a apresentação do pessoal do Sararau Crioulo e do coletivo Las Manas no hall do Teatro Paschoal Carlos Magno.

É noite de uma bruta terça-feira, mas o pessoal comparece ao Pólen, iniciativa multicultural da Funalfa que promoveu apresentações artísticas, mostras e debates ao longo de toda a semana passada.

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Ronda nossa mesa um garoto, gorro na cabeça, tênis surrado e roupas largas como convém à moda corrente, imitada sem sucesso pelos bem-nascidos do Brasil. Procura um lugar para sentar. Claudin o conhece de outras quebradas. Senta aí. Ele senta. Só quero um lugar para escrever. Abre a mochila. Me empresta uma caneta? É sua. Saca da bolsa três cadernos amassados e uma pequena agenda de capa dura, onde começa a enfileirar palavras.

Gabriel tem 14 anos e não se acanha. Gosta de falar. Abre o jogo. Papo reto:

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A Evelyn do Sararau que me chamou pra vir aqui hoje. Eu via ela no Bar do Zezinho desde pequeno. Eu via ela poetizando no slam e eu me inspirei em poetizar. E toda vez que eu vejo ela eu me inspiro para poetizar mais. Ela me ajudou muito. Depois que eu conheci ela, o meu universo se expandiu a milhares. Ela vai ser sempre o amor da minha vida.

Aprendo um verso novo: poetizar. Não poetificar. Não só rimar. Não versejar. Poetizar.

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Peço permissão e abro os cadernos de Gabriel. Poemas e mais poemas e mais poemas entremeados por lições inacabadas de matemática e desenhos prontos para serem grafitados nos muros de cimento do mundo.

Vejo ali a metáfora de toda a intensa programação cultural que percorri na semana passada. A cultura polinizada: um menino-poeta marginal fecundado pela arte que viu e que ouviu. A própria vida poetizada.

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O nome artístico de Gabriel era Larva 34. Agora é MC Morte. Morte é negativo, cara. Não é não, ele retruca. Eu era larva, mas agora eu sou a libélula, tá ligado? A morte é a transcendência.

Amigo sou teu amigo / Tô preocupado contigo / Você não pode me decepcionar, rima na última estrofe de um de seus poemas, escrito a lápis em um dos três cadernos amassados de matemática.

Gabriel tem 14 anos, é ritmo e poesia e não está na escola.

Eu tava lá no Estêvão, mas esse ano foi pesado, eu não tava conseguindo não. Mas ano que vem eu vou estudar no Central. Ano que vem eu volto.

O poeta e o cronista em torno de uns rabiscos (Foto: Claudio Melo)
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