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Um dia na vida

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Ontem eu acordei como todo dia, o celular apitando 6h. Dei uma cutucada no modo soneca, pisquei e o bicho voltou a gritar. Desliguei e estiquei o sono até 7h15.

Não acordei filha nem mulher. Também não fiz café.

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Decidi ir trabalhar a pé, caminhando e não correndo.

Passei na padaria para um queijo quente e um expresso, cheguei à redação meia hora atrasado.

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Na entrada tirei a secretária para dançar, a TV ligada num repeteco do show do Justin Timberlake.

Sentei à mesa de trabalho e não respondi um e-mail ou whatsapp sequer.

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“Morte por acidente na BR-267?” Não daremos.

“Assassinado ao sair do cabeleireiro?” Não daremos.

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“Motoboy persegue ladrão na Deusdedit?” Não daremos.

“Festa de despedida para o estagiário que vai embora?” Daremos!

E também o balanço da Feira de Economia Solidária.

Essa última me deu fome, decidi ir embora mais cedo e preparar o almoço eu mesmo, legumes e verduras frescas da quitanda, três bifões do açougue da esquina.

Comemos no terraço, onde me estiquei no chão com um copo de chá gelado em uma mão e um livro da Ana Cristina Cesar na outra, o sol ativando vitamina D na carne tranquila.

Depois de uma pestana, subir para a universidade. De ônibus desta vez. O trocador voltou a acreditar em Muralha para a final da Copa do Brasil.

Herói do título, já declaro.

Um pouco atrasado para a aula, mas no tempo certo do meu corpo, pedi à professora licença para debatermos as formas de discurso nas manifestações de “Fora Temer” no Rock in Rio.

Com trilha sonora do Spotify. Meus colegas cantaram muito bem, e a professora mostrou adventícia intimidade com o repertório de Fergie.
A pé segui para lecionar, assoviando “Moves like Jagger” e cumprimentando com a cabeça corredores, ciclistas e dog walkers. Ferve o anel viário da UFJF às 18h30.

Numa disciplina prática, tentei articular com os alunos os conceitos de rede e rizoma a partir da minha experiência como escalador de pés de jambo e ameixa. Foi uma boa aula lá em cima, todos pendurados nos galhos, entre os morcegos, especulando sobre tramas de tricô, bananeiras e linguagens transmidiáticas. Ninguém caiu.

Desci caminhando a Independência para casa. Um pouco de vontade de nadar na “piscina” do Monte Sinai, mas o vento frio e noturno da cidade-de-quatro-estações-no-mesmo-dia me intimidou.

Levei sorvete. Comemos no sofá, assistindo à nova temporada de Project Mc2.

O corpo feliz, a cabeça leve, cochilamos juntos.

E foi aí que acordei.

6h25 em JF.

 

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