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Das distâncias de ficar em casa

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Há uma distância enorme entre ficar isolado dentro de casa com a geladeira abastecida de comida e cerveja e ficar isolado dentro de casa sem geladeira alguma.

Uma distância muito grande entre ficar isolado dentro de um apartamento de duzentos e cinquenta metros quadrados e um puxadinho de quatro por quatro com casinha do lado de fora.

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#ficaemcasa com internet de alta velocidade e todos os serviços de streaming à mão – YouTube, Netflix, Amazon Prime, HBO Go, Deezer, Spotify, Apple Music – e todas as redes sociais para lamuriar à vontade é uma coisa. Outra, a uma distância abissal que se perde de vista a hashtag, é o fica em casa com uma velha televisão que não vai além de cinco canais, quem sabe um rádio de pilha que não passa jogo da Seleção de 82 nem reprisa a Copa de 70.

O sacrifício de ficar em casa jogado em sofás e camas e travesseiros e edredons vai anos-luz de distância do sacrifício de ficar em casa com mais quatro ou cinco dividindo o sofá-cama herdado da magnânima patroa.

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Há, sufocado leitor, uma distância enorme em ter ao alcance da mão uma pilha de livros para os quais finalmente temos tempo e uma pilha de contas vencidas em outubro de 2019.

E se temos todo o tempo do mundo: ouvir sonolento e melancólico o cair da chuva ou acudir a goteira da telha de amianto com baldes e bacias?

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Pois se estamos todos aproximados pela monotonia do presídio que se tornaram os dias, que se sucedem uns iguais aos outros, replicados, distancia-nos o conforto de cada cela.

A este fenômeno denominamos distanciamento social.

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