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Laboratório #02

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Amanhã o Cine Palace exibe sua última sessão. Vai passar “Perdidos em Paris”, dentro da programação do Festival Varilux de Cinema Francês, como ato final.

É bom que seja assim, lembrando na despedida sua vocação, nem sempre levada a termo, para filmes alternativos ao circuito comercial.

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Eu não vou.

Me sentiria hipócrita, já que não vou há tanto tempo.

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Nunca curti hype de funeral.

Acho comovente o movimento pela manutenção do Palace, mesmo que engrossado por muita gente que também não senta a buzanfa naquelas poltronas há anos.

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Mas é uma realidade inexorável o fechamento dos cinemas de rua em todo o país. E é uma grande pena, não do ponto de vista da arte em si, mas da possibilidade do encontro.

Os cinemas de rua estão fechando não porque o cinema está em crise. Na verdade, com as tecnologias digitais, nunca se produziu e veiculou tanto. Estão fechando porque não queremos mais a rua. Não queremos mais o imponderável. O acaso.

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Então vamos assistir à “Mulher Maravilha” nas salas assépticas dos shopping centers, naquele ambiente de coletividade controlada.

Não é só pela violência das cidades que evitamos a esquina da Rua Halfeld com Batista de Oliveira.

É que não suportamos cheiros que não sejam os nossos.

Queremos os mesmos perfumes.

Os mesmos risos.

Se é para sair da solidão desejada e assistida pelo WhatsApp e pelo Facebook, no conforto hermético de nossos sofás e Netflix e torrents, que emulemos uma experiência de compartilhamento quase laboratorial com nossos iguais.

Sem riscos.

Assim evitamos os imprevistos e o choque com o outro.

Com seu hálito.

Suas ideias.

E isso nos empobrece e emburrece.

Nos faz involuir.

O fechamento do Palace é tão lamentável quanto inevitável.

Diz algo sobre a gente.

Reflete não somente o fechamento de uma porta para a cultura.

Mas o fechamento de nós em nós mesmos.

 

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