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Será que vai chover?

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Manuel Bandeira disse certa feita sobre Rubem Braga, para muitos o maior cronista de todos os tempos, que este escrevia melhor quando não tinha nada a dizer.
Mas Rubem Braga nasceu um e só.
À maioria dos demais viventes, quando falta-nos assunto, o que ocorre geralmente é que da boca sai coisa de pouco proveito. Sabe aquela história do “quem fala demais dá bom dia a cavalo” (dizia Tia Totota, que deus a tenha)? Aquela do “em boca fechada não entra mosquito”?
Então.
Há um ditado, aparentemente de origem árabe, que diz que “a palavra é prata, o silêncio é de ouro” (me parece que estou construindo um texto de frases feitas. A conferir), que poderíamos traduzir também como “na dúvida, feche o bico”.
Mas aí o cidadão, de pé na fila do banco ou deslocado em uma festa de poucos conhecidos, sem ser requisitado, decide versar sobre economia.
A política no Oriente Médio.
Futebol inglês.
Religiões orientais.
O estatuto do desarmamento.
A contaminação do Aquífero Guarani.
Quando poderia apenas dizer: “tá quente, né?”.
Ou “tá cheio, né?”.
Ou mandar o clássico “será que vai chover?”.
(Três frases feitas em sequência. Talvez haja aqui um recorde na cronística juiz-forana, devo sublinhar.)
O que aconteceu com o “será que vai chover”, articulado leitor? O “será que vai chover” cantado em verso e prosa por Herbert Vianna na canção homônima. Imortalizado na simplicidade de uma combinação de acordes, lá menor, mi com sétima, lá menor, ré maior. O simpático e encabulado – tão bonitinho – “será que vai chover”.
É preciso resgatá-lo!
Para que, na falta do que dizer, não corramos o risco de criar embaraçamentos desnecessários e infrutíferos, de gerar no seio da família qualquer tipo de rusga imponderada, de incutir em estranhos o desejo assassino de nos esganar por uma palavra mal colocada, um comentário que denuncie o patente desconhecimento de determinada matéria.
Se o silêncio nos é tão difícil, optemos pois pelo “será que vai chover”.
Assim não cairemos na arapuca de falar – e escrever – parvoíces de qualquer sorte a troco de nada.
A não ser, claro, se intimados por imbatível força.
Ou pelo ofício.
Caso da crônica que aqui se encerra.

 

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