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A Mesentérica

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Pouca gente sabia da existência da Artéria Mesentérica Superior até a quinta-feira da semana passada, bem na véspera do feriado de 7 de setembro. O pessoal já se preparando para dar um rolê em Ibitipoca e Cabo Frio e Piúma e Monte Verde, e eis que um atentado tira Mesentérica das profundezas da cavidade abdominal de um candidato a presidente de extrema direita e lança-a ao estrelato.

Manchetes de jornal.

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De TV.

Rádio.

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Memes.

Os holofotes iluminaram a escuridão torácica, e o que se comenta nas cercanias intestinais é que Mesentérica provou e aprovou o gostinho da fama. Vizinhas, as Artérias Cólicas – Direita, Esquerda e Média -, a Ileocólica e até mesmo a irmã Mesentérica Inferior não escondem a mágoa: em todas as entrevistas coletivas, sequer foram citadas pela (ex) amiga. Uma decepção.

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“O que o sucesso não faz com as pessoas, né?”

Pois é.

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Já surgem indícios agora de que Mesentérica, verdadeiramente, nunca aceitou o anonimato, que sempre atribuiu à contiguidade com as fezes que circulam ali diariamente pelos intestinos grosso e delgado, desenvolvendo assim uma personalidade rancorosa, intolerante e virulenta. Invejava não muito secretamente a popularidade de outras artérias melhor posicionadas, como a Aorta, a Carótida, as Irmãs Coronárias, a Femoral. De modos que já achava que estava passando da hora de ter ela mesma seus minutos de celebridade.

Mas Mesentérica quer mais que os 15 prometidos por Andy Warhol, tão deslumbrada ficou com o recém-experimentado prestígio. Estaria, desconfia-se, disposta inclusive a pegar em armas para manter o status.

Não quer acreditar, como ensinou um arguto jornalista de nome Ambrose Bierce, que aí na ribalta nem resta tanta vantagem, pois o famoso não é nada mais que um miserável ilustre.

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