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Pedido de Natal

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Caro Papai Noel,
Se não for pedir muito, gostaria de receber uma crônica nesse Natal. Uma crônica que eu possa colher ali fora no pé de laranja. Que esteja guardada dentro de uma gota de chuva na manhã luminosa. Uma crônica que eu possa decifrar no canto dos canarinhos empoleirados em fila na cerca do quintal.
Sei que não fui um bom menino padrão, mas, se puder, deixe uma crônica que eu reconheça no para-choque de um caminhão. Ou na borra que jaz naquela xícara de café que tomarei daqui a pouco. Quem sabe, Papai Noel, você a largue no fundo de uma gaveta para que eu a encontre quando estiver procurando barbante serra prego durex pincel de rodapé.
Uma crônica nos olhos do menino pedinte me doerá o coração, Papai Noel, mas se for de sua vontade, deixe-a lá. Ou codificada na tatuagem do lixeiro-malabarista pendurado na traseira do compactador. Num grafite de Lúcio Rodrigues. Nas legendas de um episódio de “The Sopranos”. No farfalhar do papel do bombom que a moça desembrulha na fila do supermercado, ansiosa demais para chegar ao caixa.
Deixe-a, Papai Noel, embrulhada em papel de seda numa caixa de sapato novo. Ou entre as pilhas de livros no sebo do Cláudio. Numa panela de angu. Num pé de couve. Se preferir, pode deixá-la no abraço da minha mãe, que vou vê-la nesse Natal e ela nunca se esquece de me entregar o que largam lá em casa pra mim.
E se puder ainda pedir uma última coisa, que seja uma crônica bem leve, que não pretenda ensinar nada a ninguém, que rabisque um leve sorriso na boca de quem ler, assim gratuito, sem que se saiba ao certo de onde a graça vem.
Com votos de uma boa jornada,
O cronista

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