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O vendedor de mapas

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Havia outro dia um vendedor de mapas na Rua Batista de Oliveira. Olhei-o como quem vê uma baleia azul encostada à parede de uma casa lotérica. Um macaco-prego-galego fritando na calçada sob o sol do meio-dia. Uma onça-pintada de boné e chinelo de dedo. Um animal em extinção.

Como ele haverá tantos outros.

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Carteiros.

Lavradores.

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Lenhadores.

Agentes de viagens.

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Cobradores de ônibus.

Repórteres de jornal impresso.

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Havia algo de belo e trágico na desolação daquele cidadão parado na porta da casa lotérica, com seus mapas pendurados no pescoço e enrolados sob os braços. Como um fóssil que não tem consciência de sua condição e ainda luta por uma vida que já passou. Que não aceita o seu destino.

Não importa o quão inexorável seja sua sina, o vendedor de mapas permanece fiel ao valor de seu trabalho. Aí resplandece sua beleza: na resistência. Mas fatalmente ele se dobrará. E sua profissão obsoleta, que se torna inútil aos outros como toda vida que o tempo definha, morrerá.

Como morreram os vendedores de enciclopédia.

Os professores de datilografia.

Os entregadores de leite.

Como morrerá você.

E eu também.

 

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