Site icon Tribuna de Minas

TDAH e o caminho para além dos rótulos

PUBLICIDADE

 

O mundo em que vivemos está constituído por classificações, classificações que geram efeitos particulares e respostas imprevisíveis. Classificar significa compartilhar do mesmo problema, receber uma nomeação, um rótulo, segundo certo número de características/sintomas, interpretada por especialistas e, muitas vezes, legitimada pelas instituições. A classificação gera tipos determinados de pessoas.

PUBLICIDADE

O diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pode ser considerado uma classificação científica/médica oficial. Mas como ficam as interações entre classificação e classificado? Que efeitos esses estigmas – diagnósticos – podem causar no comportamento/ aprendizagem dos sujeitos?

Compartilhamos das mesmas normas e expectativas em relação ao comportamento social e quando uma regra é quebrada – como o não saber ler aos 7 anos, não conseguir ficar sentado calado e quieto durante uma aula inteira, por exemplo, – são tomadas certas medidas que, muitas vezes, criam outras classificações: não aprendem porque são pobres ou tem TDAH ou  seus pais são analfabetos ou são alcoólatras ou as mães trabalham fora…. Todas as classificações têm efeitos particulares.

PUBLICIDADE

Somos diretamente afetados pelo que é dito sobre nós, chegando a incorporar a fala do outro na própria realidade. Esse efeito pode repercutir em portadores de TDAH, sua família e na escola, já que, ao saber do diagnóstico, essas instituições modificam (deveriam modificar) suas atitudes para com o sujeito, fazendo com que ele também modifique seu comportamento, sua autopercepção.

Este desenho foi feito por um menino de 9 anos um mês após  ter recebido o diagnóstico de TDAH. Ele relatou que antes “a professora reclamava o tempo todo de mim e a  minha mãe brigava e me colocava de castigo porque não estudava e a letra estava horrível”, mas “depois que fui no médico e comecei a vir aqui (psicopedagoga), minha mãe ficou mais calma e minha professora também e elas estão me ajudando a ficar melhor”.

PUBLICIDADE

É possível ver a representação desses dois momentos: no lado esquerdo o passado, com um tempo fechado, com  chuva (pontiaguda) que ao cair, fere, e do outro lado (o tempo presente) em cima dele, uma nuvem, sol e duas gaivotas voando. Como ensinou Alícia Fernàndez, psicopedagoga argentina,  nossa ação docente tem que inter-vir (vir “entre”) ao invés de  inter-ferir (ferir “entre”) .

Você conhece alguma criança que se levanta da carteira a todo instante, mexe com todos os colegas da sala, fala muito e aparenta ter um motorzinho ligado dentro do corpo? Parece não escutar o que os outros falam, esquece onde deixou as coisas e tem dificuldade de  se concentrar ? Já viu um adolescente ou adulto inquieto, que demonstra estar sempre atarefado, fazendo alguma coisa, mas que na verdade é porque tem dificuldade em diminuir o nível da atividade? Fica tão entretido, imerso e envolvido com  o que gosta, como televisão ou jogo, que é difícil tirá-lo da atividade? Não para sentado quando deveria, costuma mexer pernas e mãos, não conseguindo ficar quieto para ouvir uma história, por exemplo? Convive com algum adulto com dificuldade em sair de férias e que se  ocupa com várias atividades ao mesmo tempo, apresentando dificuldades em completá-las?

PUBLICIDADE

Todos nós apresentamos alguns desses sintomas, mas quando essas manifestações se combinam produzindo um grau de intensidade e desequilíbrio que chega a prejudicar o desenvolvimento normal e produtivo da vida, é preciso, então, buscar ajuda.

Estes são alguns dos sintomas do TDAH, transtorno que precisa ser diagnosticado por um médico com base nas queixas trazidas  e nas observações clínicas, dentro de uma perspectiva mais ampla. Essa classificação é fundamental para esclarecer os sintomas, ajudar no encaminhamento terapêutico, porém é preciso ver o indivíduo para além desse rótulo.

É muito importante oferecer conhecimentos científicos sobre o transtorno, porque, assim, será capaz de minimizar certa carga de culpa que provavelmente carrega. Muitos sintomas de TDAH (e suas consequências) são interpretados de forma errada pelos que convivem ao seu redor : “é preguiçoso”, só faz quando interessa”, “não tem paciência para nada”, “não leva as coisas a sério”, “é muito desorganizado ”, “é vagabundo”, “não quer estudar”, “não controla sua emoção!” , “como é imaturo!”.

Na realidade apresenta um desnível entre o esperado em termos de idade cronológica e o comportamento, demonstrando imaturidade: consome uma grande energia, mas produz um resultado inferior ao esforço empenhado; costuma ter pressa e ser um pouco inconsequente em suas ações, demonstra dificuldade em fazer opções, age por impulsos, com pouco autocontrole e autocrítica, baixa resistência às frustrações e pouca capacidade de encarar a vida com realismo. Mas a manifesta imaturidade pode ser diluída dependendo da qualidade no aproveitamento do tempo e das experiências oferecidas. Esse é o convite que faço aos pais e professores: olhem estes seres humanos para além dos rótulos e destaquem suas habilidades. O estímulo move a inteligência e a vontade.

Edward Hallowell e John J. Raley, em seu  livro Tendência à Distração, da editora Rocco, alistam uma série de comportamentos interessantemente produtivos nos indivíduos com TDAH: possuem pensamento original, fora da caixa, muitos talentos criativos, que geralmente não aparecem totalmente até que o TDAH seja tratado, tendem a adotar um jeito diferente de encarar a própria vida, costumam ser imprevisíveis na maneira como abordam diferentes assuntos, geralmente muito afetivos e de comportamento generoso, altamente intuitivos e, com  frequência, demonstram ter uma inteligência acima da média.

Qual destes você percebe em seu filho, aluno, cônjuge?

Que tal passar a semana inteira dedicando atenção ao mais bonito e ético que esta pessoa manifesta?

Mande suas lindas descobertas para  este  blog – em forma de  declaração, reconhecimento ou orgulho – para criarmos uma corrente, de bem, e mudarmos o tom pessimista e classificatório a que todos somos submetidos.

Neste blog também tem dever de casa !

______________________________________________________________________________

Seminário Internacional de Educação Contemporânea

Em maio de 2018, Juiz de Fora

Uma grande oportunidade!

Informações e inscrições : www.siecjuizdefora.com.br

Exit mobile version