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Eis que chega Roda Viva

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Se você que me lê pertence ao grupo de quem não aguenta mais ouvir e ler a respeito da participação da pré-candidata Manuela D’ávila (PC do B) no Roda Viva, pode abandonar estas linhas agora. Ou continue, por sua conta e risco. Não é surpresa que o âncora Ricardo Lessa tenha apresentado a atração como o “mais tradicional programa de entrevistas da TV”, porque, de fato, o que era para ser uma entrevista sobre propostas de governo e de política em geral é um retrato muito preciso dos que se autodenominam como integrantes da “tradicional” família brasileira, cidadãos de bem.

O que se seguiu durante pouco mais de uma hora de duração da “entrevista” foi uma série de interrupções ao discurso de Manuela, perguntas que os entrevistadores, jornalistas ou não, fizeram para que eles mesmo pudessem responder. Aos que abominam termos cunhados pelo feminismo, lá vai: foi um show de horrores de “manterrupting”, quando um homem interrompe o discurso de uma mulher para falar, geralmente, sobre algo que ela domina. Nada diferente do que acontece no mundo, todos os dias, em todos os espaços.

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Quando uma mulher, sobretudo jovem, como Manuela, alcança uma posição de algum poder e possui algum eco em sua fala depois de muita, muita porrada, muita violência física e moral, e muita luta, resta a quem sente seus privilégios ameaçado uma cartada final: o silenciamento. E aí, com licença do empréstimo das palavras de Chico, “eis que chega Roda Viva”, na tentativa de carregar Manuela “pra lá”.

A grande questão é que mulheres como ela, que tanto já foram desmerecidas, violadas e desrespeitadas, chegam a um ponto da vida em que se vira a chave, e ficar calada não é mais uma opção. Ataque a ataque, a seu feminismo, à sua inteligência, às suas convicções políticas e sociais, à sua trajetória política e, em certo nível, a escolhas pessoais, Manuela argumentou com precisão, serenidade e paciência, mesmo quando um enorme eco de vozes tendenciosas e claramente descompromissadas com o objetivo de produzir informação tentaram calá-la.

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Quando nós, mulheres, descobrirmos a força que temos e que ainda precisamos ter para que vivamos em um país e um mundo minimamente igualitário e justo, é um caminho sem volta. E ninguém mais pode nos silenciar. Marielle, a quem tentaram calar com a morte, está mais gigante do que nunca. Toda mulher que sai de um relacionamento abusivo, de qualquer forma que seja, cresce, resplandece e nunca mais aceita menos do que merece. Todas nós, quando nos cercamos umas das outras para caminharmos juntas, sentimos, quase literalmente na pele, o quanto somos irrefreáveis. Manuela, lançada aos leões no Coliseu falido do Roda Viva, não para de crescer e se tornar cada vez mais forte. E de abrir portas para que cada uma de nós siga o mesmo caminho.

Eu não tenho a petulância de dizer que “somos todas Manuela”. Mas tenho certeza que tem uma sementinha dentro de nós – até mesmo nas que se unem ao coro dos machistas para atacá-la – prontinha para crescer e resistir. Um dia ela brota, não tenho dúvidas. Porque as agruras da vida não cansam de regá-la. Floresçamos. Resistamos.

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