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Genocídio

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A esta altura do campeonato, é de uma grande desonestidade, com requintes de maldade, teimar no argumento delirante de que “todas as vidas importam”. É óbvio que, pelas palavras da Constituição, pelo mínimo de humanidade que se deve presumir das pessoas e por qualquer interpretação da palavra “justiça”, é assim que deveria ser: absolutamente todas as vidas importam.

Mas na prática, vemos todos os dias que há vidas tomadas como absolutamente descartáveis e tidas, no máximo, como “dano colateral” de ações institucionais pretensa e falsamente em nome da segurança. Segurança de quem? Contra que mal maior que um extermínio planejado e sistemático de uma mesma população?

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De bala encontrada, asfixia em mala de carro oficial ou porrada uniformizada, de tempos em tempos o massacre sistemático de pessoas negras escandaliza e revolta quando é exposto no noticiário. Inclusive as pessoas brancas e privilegiadas como eu, seguramente imunes não contra fatalidades ou a violência, mas de extermínio racista, apenas pela existência na própria condição.

Sabemos que o que vai para a mídia é somente a ponta finíssima, feito agulha de insulina, de um iceberg nefasto e profundo de abatimento histórico e racial. E mesmo assim, o assassinato de pessoas pretas continua sempre na mídia, em casos que não são isolados nem pela exceção da exposição, quanto mais na materialidade dos que ficam ocultos do olho público.

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Volto sempre a uma questão que não se cansa de me perturbar: no Brasil não há metáfora ou força de expressão, apenas a força bruta. Quando se fala em genocídio negro, não se trata de um esforço retórico ou uma hipérbole. Está tudo acontecendo diante dos nossos olhos, sem o menor esforço de ocultação.

Autora de “Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro” (2008), a advogada e pesquisadora negra Ana Luiza Pereira Flauzina crava  devidamente como  se deve começar qualquer debate em torno da violência histórica do Estado (que deságua em muitas outras) contra a negritude brasileira. “Minha tarefa não é justificar o genocídio, sua existência é meu ponto de partida”.

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