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Menos amor, por favor

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Não, eu não estou doida. Nem quero incitar ódio, violência ou qualquer coisa desta estirpe. Mas parece que tem uma onda de amor e benevolência se alastrando pelo Brasil, um movimento que muito me preocupa. Não estou falando do pessoal #goodvibes, nem do coro dos que se recusam a dizer “obrigado”. Porque agora não pode, é “gratidão” que se diz. Mas isso não vem ao caso. Tampouco me refiro a quem pede “mais amor, por favor”. Tem que fazer favor não, gente. Ih! De novo, estou fugindo ao temer, ops! Tema.

Muito se fala em vitimismo quando se trata de gente que sofre algum tipo de opressão. “Feminismo é ‘mimimi’.” “Cota é privilégio de negro”. “Como vou explicar pros meus filhos dois homens se beijando?”. “Travesti é aberração”. “Quem faz greve é vagabundo”. Eu poderia preencher todas as linhas que me concedem nesta coluna listando chavões que visam a desmerecer a luta alheia. Mas não vou estragar seu domingo com isso.

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Como dizia, eu ando com vontade de pulverizar o Brasil com um antídoto contra uma onda específica de benignidade. Por contenção de gastos em tempos de crise, dá até para reduzir o escopo do fumacê antiamor, restringir só a Curitiba, para segurar a overdose de generosidade do juiz-celebridade Sérgio Moro. A semana que se passou foi apenas mais uma em que a gente não consegue entender o cenário político do país e se descabelou batendo boca com amigo e parente no WhatsApp e nos botecos.

Mas foi também a semana que o atual paladino da Justiça (cargo imaginário que já foi de Joaquim Barbosa) inocentou Cláudia Cunha, esposa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (bate na madeira! toc! toc! toc!) dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. E, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da operação Lava-Jato, a absolvição veio do “coração generoso” de Moro, que não encontrou provas suficientes para condená-la. Talvez US$ 1 milhão em propina em conta na Suíça seja clichê demais para ser evidência. Haja generosidade. Menos amor, por favor.

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