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Nem tudo que ri é happy

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Começou. Pisca-pisca nas lojas, verde, vermelho, branco. Neve de isopor, Papai Noel de todos os tamanhos, rena em país tropical, barba branca, cabelão e roupa peluda a 50 graus na sombra. Papai Noel preto. “Ah, mas Papai Noel negro não existe!” E lá existe Papai Noel?

Lista de compras. Amigo-oculto da firma, amigo-oculto da família, amigo-oculto da academia, amigo-oculto,amigo-oculto. Tanto “amigoculto” que os declarados acabam sendo ocultados pela infindável lista de compromissos das confraternizações de fim de ano. “Não vai dar, hoje tenho compromisso.” Fica pra depois. Ou não fica. Normalmente não fica.

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Presente das crianças. Ri Happy mais populosa do que a China. “Mas do que as crianças tão gostando agora?” Um bando de nomes desconhecidos: PJ Masks, ratos em miniatura que respondem por Sylvanian Families, LOL, Ladybug, Cat Noir, Marinete… PERAÍ! Cat Noir e “Marinete”? É isso mesmo? “Ela quer a cozinha da Barbie.” Qualquer uma? “Não, a cozinha que tem papapa pipipi popopó…”. A classe média brasileira segue em queda livre, mas aparentemente a Barbie ainda tem direito à cozinha dos seus sonhos. Fila pra pagar. Fila pra pegar. Fila pra embrulhar. Ninguém ri, ninguém tá happy.

Presente de todo mundo. Sol, calor. “Ai, cacete, só não pode chover.” Choveu. Também só falta o do amigo-oculto. Nossa, mas só tem coisa feia e cara. Achei uma bonita. Cara. Comprei assim mesmo, porque ele vai gostar. Vai gostar não, meu amigoculto vai amar o presente.

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“O meeeeeu amiiiiiiigo-ocuuuuulto é uma pessoa muito…” Ele abriu o presente. Me abraçou. Sorriu e agradeceu muito. Mas sorriu como a gente dá bom dia em elevador, sabe? Merda, ele odiou o presente. E o pior é que ninguém vai devolver as horas passadas no calor em busca desse sorriso não dado. Todo mundo bateu palma assim mesmo.

Ceia. Piada de peru. Piada de pavê. Era pacumê. Farofa, bacalhau, medalhão, arroz branco, arroz colorido. Uva-passa.”Abaixo o Natal com uva-passa, que não sei o que…” Você pode tirar a sua, tá liberado, fião. Frango, uma massinha “porque todo mundo gosta né”, algum tipo de batata, pudim, rabanada, sorvete e híbridos que se tornaram clássicos, como o incomparável sorvebolo. Um Eno, só pra garantir.

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Meia-noite. “Feliz Nataaaaaaaaaaaaaaaaaal!”. Simone me interpela “e o que você fez?”. John Lennon questions me “and what have you done?”. Fujo em dois idiomas. “Feliz Natal, filha!”. “Feliz Natal, querida!”. “Feliz Natal, Dinda Ju!”. “Feliz Natal, Juju!”. Variações do mesmo tema que me fazem perceber que, de fato, não precisava de mais nada além daquela sala para que fosse feliz. O Natal e boa parte da vida.

Papai Noel. Pisca-pisca. Presente. Ceia. Amigoculto. Tudo que é função e acaba esmaecendo o sentido do que faz a gente ir pra rua debaixo do sol no comércio. O melhor do Natal não são coisas e não cabe nem no embrulho infinito que a Ri Happy vai inventar daqui a alguns anos.

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