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Separados por um Airbnb

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Posso listar muitas das coisas que pensava que veria em 2017 quando era criança e o ano parecia um embaralhado de números longínquo. O clichê dos carros que voam? Sim. Robozinhos que fazem tudo nas casas de qualquer pessoa? Sim. Gente usando roupa prateada? Sim – inclusive já tenho várias peças no tom para estar preparada para o dia em que o prata dominar o mundo. Donald Trump Presidente? hahahahahahahahahahahahahahaha Supremacia branca? Quê?! Nazismo? Nem nos meus pesadelos sobre o mundo virando inferno. Que ingênua! (Ou burra mesmo).

Quando eu estudei Hitler quase 20 anos atrás, me dava aquela sensação de um sentimento universal de desprezo, vergonha e tristeza absolutos por um passado que parecia roteiro de filme, de tão cruel. Hoje ligo a TV e a sensação é a mesma, só que o terror não está aprisionado nas páginas de um livro de História. Tá na TV. Tá no Facebook. Tá nas ruas de Charlottesville. Tá na piscina com uma suástica no fundo de azulejos, em Santa Catarina. E trago más notícias: tá bem mais perto do que a gente acredita estar.
Não estou falando (necessariamente) do nazismo como doutrina política, no espírito literal “Heil Hitler!”, mas do ódio que o move coletivamente. O mesmo vale para a Ku Klux Klan, qualquer grupo supremacista branco ou qualquer amontoado de gente que se junte em torno da execração de outrem.

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O homem branco que caminhou pelas ruas de Charlottesville está separado do torcedor que fez injúrias raciais à família do jogador Vinícius Jr apenas por um Airbnb (rede de hospedagem que cancelou contas e negou estadia a participantes da marcha neonazista). A lógica que move o macho e sua fragilíssima masculinidade ao se incomodar com o prédio da Funalfa com as cores do arco-íris é a mesma que inflamava o Führer a mandar homossexuais para câmaras de gás. O senso de superioridade dos que carregam a suástica é idêntico ao do apanhador só que tortura uma mulher, a sua mulher, física, psicológica e socialmente, por anos a fio.

Pode não ter tocha, pode não ter suástica, pode não ter vestes brancas com “chapéus” pontudos, nem a imagem de um quase anão de cabelinho partido ao meio e bigodinho duvidoso. Mas não se enganem. Tal qual Caetano e Gil disseram certa vez sobre o Haiti, Charlottesville é aqui.

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