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Meu amigo Evandro

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Eu me lembro como se fosse ontem de sentir um arrepio percorrer toda a espinha até o pé da nuca, que afastei num brusco movimento de pescoço enquanto era assombrada pelas palavras do meu amigo Evandro. “Toda morte emblemática marca o início de uma virada para pior na história.” Assenti, temi pelo futuro e concordei, sem esperanças.
Era dia 14 de março de 2018 e qualquer pessoa que tem o mínimo de humanidade e cabeça no lugar estava, como nós, em pleno estarrecimento diante da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Como eu quis acreditar que Evandro estava errado! Mas não consegui na época, e hoje só seria capaz se me faltassem muitos neurônios ou sobrasse muita maldade. Estamos em plena curva da guinada para pior da história desse país, um movimento que contraria as regras de ditos populares e sempre dá um jeito de piorar mais, e mais, e assim infinitamente.
Escrevo em novo estarrecimento, de tola que sou. Como esperar o mínimo de decência de um governo que chama de aventureiros um indigenista e um jornalista que empenharam suas vidas (e pagaram com elas) a denunciar os despautérios que assolam a Amazônia? Como não enxergar apenas uma queda livre rumo ao fundo do poço quando o “desaparecimento” de Bruno Pereira e Dom Philips é “justificado” como “descuido” de ambos, já que eram “malvistos” na Amazônia? Como acreditar que quem disse tais disparates foi eleito para chefiar o país? Spoiler: a chave para esta está no eleitor, quem o pôs lá também acredita assim, e carrega junto o sangue nas mãos. Quantas aspas vou precisar usar para quebrar os eufemismos para falar do extermínio planejado de quem se opõe a interesses escusos?
Quantas mortes emblemáticas ainda teremos anunciando a permanência de tempos horrorosos? (Poderia perguntar ao meu querido Evandro, mas tenho medo de ouvir a resposta.)

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