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Maldito (mas nem sempre) tempo

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Da minha interminável lista de medos – passando pela trilogia “cão, andarilho e capeta”, já citada nesta coluna – talvez o rei soberano seja o tempo, como é comum aos preguiçosos e covardes. Como muitos de nós, tenho a condenável mania de atribuir muitas das minhas falhas, irritações e omissões ao tique-taque dos relógios, seja quando o julgo acelerado, ou nas vezes em que cada segundo parece passar com a lentidão do trânsito da Itamar Franco em sexta chuvosa. Há, ainda, ocasiões para a qual criamos um termo especial, o “timing”, derivado do inglês como tudo que tentamos acobertar em português, empregado para falar de quando o tempo é equivocado por si só: o famoso “não era pra ser”, o “timing” foi errado.

Que fique claro: o tempo é carrasco sim, e seu passo apressado soterra emoções, momentos e conquistas que deveríamos ter a chance de viver com os ponteiros estáticos. Igualmente, ele nos nega o poder de acelerá-lo para cicatrizar uma ferida, curar uma dor, esquecer o inesquecível. Mas não sejamos levianos: nem tudo é culpa do dito cujo. Precisamos estar sempre preparados para a vida, e para arcar com nossas responsabilidades sobre o que fazemos. Nem tudo que deixamos de fazer é por escassez de tempo, e aquele amor, emprego ou passeio que apareceu um dia e que deixamos de agarrar pode ter sido alvo menos do “timing” e mais de nossa falta de coragem.

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Poupemos o tempo, não só em nossa vida, mas de seu papel de vilão. A não ser por algumas vezes, em que ele realmente é indefensável.

No último domingo, soube da morte precoce de um professor querido de ensino médio, o Wilde. Tinha uma voz anasalada, um andar desengonçado, um bom humor inabalável (a não ser quando criticavam o Flamengo) e um coração maior que o mundo. Talvez por isso mesmo não tenha aguentado as mazelas de viver neste planeta. Ensinava matemática, outro dos meus pavores, e tinha uma paciência de Jó com quem precisava, como eu, de mais – surpresa!- tempo para compreender os números. Quando a falação de 50 adolescentes tomava a aula, dizia, com a voz tão peculiar: “Gente, silêncio! Senão vou falar um palavrão”. E a gente falava mais, só pra vê-lo xingar, e ríamos todos juntos. Eu deveria por o tempo em seu devido lugar, por ser tão escasso assim ao Wilde. Mas opto, só por hoje, pelo silêncio. Senão vou falar um palavrão.

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