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Mudança

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Embora deteste o ato em si, confesso que fico maravilhada com o infinito número de vezes que é possível meter a vida em caixinhas, caixotes e contêineres de todo tamanho, desmonta daqui, desmonta dali, e montar uma casa nova em outro lugar. Outras portas, outras vistas, outra hora do dia em que o sol bate, mas tão logo esteja tudo no lugar – ou quase -, casa.

Com o passar dos anos e CEPs, fui me desfazendo de roupas, bilhetes, convites, cacarecos, lembranças, pessoas e sentimentos. Engraçado como coisinhas que algum dia foram tão valiosas tornam-se -algumas até tarde demais – nada além de lixo que sequer merece uma camadinha de papelão antes do descarte. Desperdício. Por outro lado, coleciono ainda entradas de cinema, agendas, milhares de fotos, cadernos, flyers de festas e comunicados que viraram bilhetes: “Quantas faltas você tem? Vamos embora depois do intervalo?”. Letras conhecidas, conversas sem pé ou cabeça, lembranças distantes. Não é estranho não saber como é a letra de todo mundo que a gente ama?

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Escrevo na caixa grande: “miscelânea”, etiqueta que não ajuda a identificar os itens de que não me desfiz, mas dáum indicativo, assim como eles apontam para memórias que não vêm assim tão nítidas, mas trazem pedaços meus que quero manter. Com o tempo, a gente aprende a não carregar tralha e passa a ter mais cuidado com as bagagens. Com o tempo a gente para de querer carregar tudo pra casa, e torna casa somente o que faz sentido carregar.

 

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