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Snapchat

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Em alguns dias mais que outros, tomamos uma brusca consciência do tempo e sua celeridade, que costumamos ignorar em prol de alguma sanidade cotidiana. Uns meses atrás, o tempo me passou uma rasteira besta, e eu caí de madura. Depois de muito resistir, fui me entregar ao tão falado Snapchat – um pouco antes de o Instagram criar seu clone, mas isto é detalhe – , que a juventude adora. Na prática, é como se você tivesse seu próprio canal virtual, onde a atração é sua vida, exibida por vídeos e fotos que se esvaem no período de 24 horas.

Não bastasse a efemeridade dos arquivos, ficou muito clara a da minha juventude. Tentando me enveredar pelos recursos do Snapchat – sem sucesso -, estava um pouco como aquelas adoráveis doninhas que dirigem coladas ao volante. Isto sem falar no meu constrangimento em sacar o celular e falar olhando para a tela, além do fato de eu acreditar piamente que tenho nada de interessante a dizer ao pobre coitado para que ele leve ao mundo. Faltam-me estes dois talentos: falar com eloquência e roteirizar o cotidiano. Desisti do Snapchat, porque o tempo me mandou um recado: o meu, para o descolado aplicativo, tinha passado. E não pela minha idade, talvez pela preguiça absoluta de me comprometer a entendê-lo.

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Nem sempre a vida é sutil em suas lambadas para mostrar nossa insignificância e sua transitoriedade. Muitas vezes o golpe é brutal, irreversível e desolador. Em semanas como a que se passou, nós, conectadíssimos, percebemos o quão analfabetos somos na sinestesia da tecnologia com a existência. Em nossas zonas de conforto, tendemos a pensar que viver se compara ao Facebook: os algoritmos mostram o que mais se assemelha com nossas preferências, as imagens são lindas e apesar de até ter muito bate-boca, agressões impiedosas e gente defendendo o indefensável, no canto da página todo mundo é “amigo”. Sem falar que o que se posta fica ali, registrado. Esqueceu-se de algo? O Zuckerberg vem até te lembrar o que você estava fazendo neste mesmo dia, nos anos passados.

Só que na realidade, a vida é o Snapchat. Difícil de entender; com poucas opções de filtro; cheio de gente falando sozinha e de histórias que não queremos acompanhar. E sem qualquer aviso prévio, tudo simplesmente acaba, apaga-se. Antes que tenhamos a mínima chance de digerir.

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