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Algo de sublime

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“Tem algo de ridículo e de sublime em sentar na frente de um computador e tentar escrever um texto enquanto teu país entra em colapso.” Enquanto o cursor pisca na minha tela, o tweet aleatório do usuário André Araújo – que desconheço – resume meu infalível sentimento semanal quando reservo parte do meu tempo para bater meu cartão nesta coluna.

Desde o início da pandemia, eu, rainhazinha do meu pequeno mundo de privilégios, vira e mexe caio no abismo de me questionar qual é o sentido de continuar fazendo as coisas. E invariavelmente indago por que continuar escrevendo enquanto todas as certezas desmoronam: os abraços, a liberdade, a democracia, a vida.

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Egoistamente, sigo escrevendo porque desde que aprendi, ainda não encontrei maneira melhor de tentar digerir a realidade do que desenhando-a em montes de letrinhas. Embora eu duvide muito de meu altruísmo, acredito que insistir em escrever é, como bem versou o tweet que abre essas linhas, uma maneira de me expor quase sempre ao ridículo, na tentativa incansável de encontrar o sublime. Para mim – que não sou besta – e para nós (porque fora do coletivo não existe chance de paz ou bonança).

Então escrevo porque apesar de não ter religião, é um ato cego de fé. De não saber como será o futuro, e nem se ele existirá. Mas lançar palavras ao mundo na esperança de que elas sejam capazes de devolver os abraços perdidos, lavar a alma tão ferida, expurgar a raiva de um apocalipse programado. Vou jogando palavras, para mim e quem quiser, como as crianças da história, que deixam migalhas pelo caminho na tentativa de voltar pra casa. Chegaremos? Não sei.

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Escrevo pra enganar o tempo, que “sabe passar e eu não sei”, no intento pueril de que em algum momento eu crave um ponto final num destes textos e o mundo seja outro. Um onde fosse possível – não será – apagar ou aplacar todo esse horror que nos obrigam a testemunhar diariamente.

“Lembra do que aconteceu no Brasil naquela época?”

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“Nem vi, menina, estava escrevendo.”

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