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Sobre sorte e juízo

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De tempos em tempos, a gente toma uma rasteira da vida que bagunça tudo que tinha como certeza. Uma doença, uma dívida, uma morte, uma separação, um tombo, uma topada com a cabeça do dedão, uma unha que quebra no sabugo e fica doendo. Tragédias minúsculas e de proporções de calamidade pública. Diariamente. Somos tão prepotentes que vivemos cada minuto sob a lógica de “mais sorte do que juízo”. Por mais que a gente se cuide, tenha uma vida extremamente saudável, recicle o lixo, tome a quantidade certa de sol – nem câncer de pele, nem carência de vitamina D – e tente ser justo nem que seja por medo de mau karma, nada nos livra do imprevisível. Mas pior mesmo é quando o previsível monta sua arapuca, não raramente sob um coro estrondoso de “eu avisei”.

Confiando demais na sorte e tendo pouquíssimo juízo, vamos vivendo, como se a Terra desse recados o suficiente de que estamos acabando com ela. Fazemos piada por estar frio em janeiro, como se as alterações climáticas fossem lenda urbana. Erguemos cidades inteiras sobre rios, e ficamos em estado de puro estarrecimento quando, depois de dias de chuva torrencial, bueiros explodem, avenidas se despedaçam e vidas são arrastadas pela correnteza destes mesmos rios que, transbordando, precisam desaguar em algum lugar (volte uma casa e leia de novo sobre o clima). Zombamos do veganismo, de quem carrega canudo de metal, reclamamos de mercados que abolem sacolas plásticas enquanto fazemos absolutamente nada para prolongar a vida do planeta, que já vem fazendo hora extra há umas boas décadas. Do auge da nossa petulância e egoísmo, vivemos como se fôssemos sair impunes, e se de fato sairmos, seguimos a vida a despeito de quem perde ou perderá a sua pelo nosso absoluto desmazelo ambiental.

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Como disse, não há escapatória para as mazelas do que não se pode prever, e é claro que não podemos viver nos preparando para levar um susto na tentativa de neutralizar seu efeito. O melhor que podemos fazer é cuidar da gente e de quem amamos, e esperar que tudo dê certo. Quanto a tragédias previstas e anunciadas, é melhor criarmos juízo. Ao que tudo indica, o turno da sorte a nosso lado está para acabar.

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