Site icon Tribuna de Minas

O peso de ser apenas uma criança

PUBLICIDADE

Rayssa poderia estar brincando de bola de gude em uma rua qualquer de Imperatriz, mas representava o Brasil nas Olimpíadas. Há muitas coisas triviais em crianças. Outras, nem tanto. Mas, ao fim, são sempre crianças. Quando milhões de pessoas se esparramavam pela madrugada, Rayssa carregava nas costas todo o peso de ser apenas uma criança. Ela desfilou pela Ariake Urban Sports Park como se a única preocupação fosse o calor escaldante de Tóquio. Rayssa tem, aos 13 anos, um skate, um aparelho ortodôntico e uma medalha olímpica de prata.

A Olimpíada de Tóquio é apenas a terceira realizada desde o nascimento de Rayssa Leal (Foto: Patrick Smith/Getty Imagens/Divulgação)

O Brasil esperava o mundo e mais um pouco de Pâmela Rosa, Rayssa Leal e Letícia Bufoni. Pâmela é a primeira do ranking mundial. Letícia, a quarta. Rayssa, a segunda. Se representar o próprio país nas Olimpíadas não fosse o suficiente, a eliminação das compatriotas ainda na fase classificatória poderia ter melindrado Rayssa. Mas a única preocupação que ela transpareceu era mesmo a de ser uma criança perdida em um sonho bom de verão. Ela tanto e tão só se divertiu. As circunstâncias eram meras circunstâncias. A cada bateria, Rayssa lembrava ao lado da filipina Margielyn Didal que a eternidade na verdade é uma festa.

PUBLICIDADE

E Rayssa tinha a alguns metros à direita a estadunidense Alexis Sablone. Um pouquinho mais perto, a atual campeã mundial Aori Nishimura. O bom desempenho de Roos Zwetsloot nas voltas completas não lhe preocupou mais do que a direção do vento. As três sequer subiram ao pódio. Carregavam nas costas e no semblante a pressão da primeira final olímpica de uma modalidade debutante. Rayssa, que nem idade para festa de debutante tem, ostentava toneladas de leveza.

Em esportes de alto rendimento, a descontração é por si só um ato de subversão. Não é somente um estado de espírito. As competições paradoxalmente impõem um ritual de sacrifícios de anos para privilegiar uma performance de segundos. Quando a alegria deveria ser apenas uma recompensa, foi um método inegociável para Rayssa. Não interessa se foi por ser genuína ou madura demais. A competição de Rayssa era outra. E uma completamente diferente das demais. O seu peso era de ser apenas uma criança.

PUBLICIDADE
Exit mobile version