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A empatia é inegociável

Marta-FIFA-Getty-Images-Reprodução
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Desclassificações em Copas do Mundo são absolutas. Tão inapeláveis quanto desalentadoras; torneios mundiais são cabais. Copas encerram ciclos, já que, no esporte, quatro anos correspondem a uma década. Copas, no entanto, nítida ou subliminarmente, desembocam em encruzilhadas; apontam direções a serem seguidas. Certas ou erradas. Desde a preparação para o Mundial da França, a Seleção Brasileira feminina carregava um bocado de certezas. Dentre elas, a derradeira Copa das notáveis Cristiane e Formiga. Em apenas quatro jogos, entretanto, as mulheres ressignificaram a relação dos brasileiros com o futebol.

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Em razão de seu caráter subalterno, o futebol é significado por valores essencialmente inegociáveis, como o elo estabelecido entre torcedores e jogadores. A Seleção Brasileira feminina recuperou a empatia do público para com o jogador de futebol; na verdade, mobilizou a empatia de torcedoras para com as jogadoras. De Bárbara à Marta, passando por Kathellen, Tamires e Ludmila. Alguns dizem piedade, pois são ignorantes. Mas se trata de identificação. O futebol carecia de empatia há alguns anos. Os motivos são assunto para outra costura, diga-se.

O gol de Amandine Henry, aos 107 minutos, em Le Havre, nesse domingo (23), encerrou uma jornada heroicamente extenuante, tradicional à memória brasileira; cada minuto em campo parecia ser pelas jogadoras ainda em formação no Brasil. A empatia relativiza a necessidade por vitória – exigência religiosa de torcedores brasileiros para acompanhar quaisquer modalidades; a resiliência é o suficiente, basta. É o que torna semelhantes torcedoras e jogadoras. Apesar de a mobilização ter ocorrido em competições anteriores, a relação estabelecida é completamente distinta. Em razão da ampla cobertura da emissora de maior audiência do país, talvez. Mas, certamente, ao encontro de um movimento contrário às políticas reacionárias em progresso.

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Em Tóquio, haverá uma memória a ser retomada, ainda que sem Cristiane, Formiga e, por ventura, Marta. Ao contrário da equipe masculina, a Seleção feminina cativa, pois retoma sentidos de Brasil há algum tempo reprimidos. Ainda que a campanha tenha sido dramática, a Seleção Brasileira tomou de assalto um valor fundamental ao desenvolvimento da modalidade; ainda que à geração tenha escapado conquistas relevantes a nível mundial, ela deixa o selecionado popularmente referendada. A luta é para que outras gerações não sejam negligenciadas.

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