Não há rebaixamento mais longo na história do que o quarto do Vasco da Gama. O Vasco recebeu a extrema unção no último domingo (21), mas há ainda três dias de luto resignado. Nem mesmo a matemática reza o terço cruzmaltino. Os 12 gols a menos de saldo que separam Fortaleza e Vasco encerram uma história tão perversa quanto iminente. Um novo descenso parecia inevitável desde a inclassificável eleição de Alexandre Campello, inclusive para o próprio presidente, ainda que, dizem por aí, nem vascaíno o sujeito seja.
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Nem mesmo o Expresso da Vitória seria capaz de liquidar um saldo de gols tamanho, mas, ainda que esta seja uma mísera burocracia diante das circunstâncias, é um martírio ao cruzmaltino. O critério, um asterisco quase, uma desgraça, é verdade, timbra o papel em São Januário na próxima quinta, não em Itaquera. E não haverá um torcedor que deixará de assistir à derradeira empreitada. Não por esperança, obviamente, mas, sim, por ressentimento, porque ao menos a última impressão na Colina deve apontar para o futuro, não para o passado.
O saldo deixa nu Vanderlei Luxemburgo, à imagem e semelhança de Campello, com quem o Vasco desfaleceu no Castelão diante do próprio Fortaleza ao ser derrotado por 3 a 0 sem clemência alguma, e, em São Januário, quando fora incapaz de balançar as redes do Bahia. Garanti a um amigo cruzmaltino que, como há dois anos, Luxemburgo, diante da mediocridade do futebol brasileiro, ao menos asseguraria o Vasco na elite. Porém, me enganei, assim como Luxemburgo e o time carioca se enganaram. Como um desses casais decididos a relembrar os velhos tempos após um reencontro de supetão em uma noite qualquer.
Não haverá um dos três dias restantes em que o vascaíno abrirá mão de buscar na tabela, rodada por rodada, em qual jogo a história poderia ter sido diferente, por mais óbvia que a queda agora se apresente. Por que, cargas d’água, Juninho e Gabriel Pec não tenham ganhado mais tempo em campo. Ou então, qual teria sido o destino caso Ramon Menezes fosse mantido, porque, ali, ao menos ali, havia delírio, paixão, por mais efêmero que tenha sido, não melancolia. Não há rebaixamento mais longo da história quanto o quarto do Vasco da Gama.