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Há algo que escapa às reprises

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(Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

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Pois eu estava reticente em rever à final da Libertadores da América entre Flamengo e River Plate. Das tantas reprises transmitidas desde 23 de novembro, assisti a nenhuma. Revi apenas os gols, bem da verdade, mas nessas madrugadas em que o futebol, de chofre, nos ocorre como o mais inofensivo dos desgostos da vida. Embora me simpatize à ideia de uma faixa exclusiva para a reexibição de jogos históricos, sou resistente a assistir reprises. As transmissões são completamente esvaziadas; ocas, por vezes. Mesmo em uma tentativa desesperada de me atentar a detalhes desapercebidos, a impaciência me toma por completo. Sem mais palavras, as reprises são entendiantes.

Não foi exatamente a finalização de Gabriel após um chutão ordinário de Diego e a mal fada cabeçada de Pinola em direção à própria área o estopim da catarse rubro-negra. Havia, ali, pouco antes das 18h daquele sábado, sensações que, certamente, torcedor algum jamais sentirá novamente. Eram 38 anos de angústia, desespero e raiva. Era a certeza da vitória, mas a desconfiança da própria certeza. Era a incredulidade de ao menos duas gerações ao assistir o time em um lugar inimaginável há poucos anos atrás. E, por mais que esses sentimentos sejam tão palpáveis seis meses após a conquista, senti uma frustração perturbadora ao ser incapaz de não atingi-los.

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Seria capaz de detalhar a você, raro leitor, cada ato deflagrado por mim naquele 23 de novembro. Desde as palhas queimadas, as mãos trêmulas e suadas ao mísero porta-copo utilizado, até a promessa a São Judas Tadeu ainda não cumprida. Mas a reprise, por si só, foi incapaz de me provocar o que havia sentido. E, talvez, é esta a beleza do futebol. Da vida, na verdade. Foi nostálgico, mas amargamente saudoso. O futebol é cativante porque se trata apenas do que se sente, pouco do se vê. E simplesmente não se sente novamente.

E, por mais que as reprises sejam didáticas como uma reconstituição historiográfica de qualquer modalidade, são restritas ao nível técnico da coisa, ainda que minuciosamente contextualizadas. Não há como reprisar a tensão, a agonia, o desespero, e, finalmente, o gozo. O quão sem graça seria se possível fosse, afinal? Em um acesso brutal, quase catei a minha mochila a destino do Rio de Janeiro no domingo seguinte à final. O objetivo era simples: sentir o que se sentiria na Avenida Presidente Vargas. Pois eu deveria ter ido. Há algo que escapa às reprises.

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