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Sobre encontros e desencontros

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Quanto mais assisto futebol, menos lhe entendo. Talvez por isso seja cada vez mais gostoso. Jogadores tentam lhe explicar em campo, treinadores em coletivas de imprensa, cronistas em papel, analistas em estatísticas, cientistas em teses e dissertações, torcedores em biroscas e fanáticos em realidade fantástica. Mas, em última instância, o futebol, como qualquer outra coisa, é disputado. Se um torcedor filiado à Raça Rubro-Negra diverge de outro da Força Jovem do Vasco, não há como cobrar consenso entre Vanderlei Luxemburgo e um analista de desempenho.

Pelé e Garrincha personificam um dos maiores encontros da história do futebol brasileiro (Foto: CBF/Divulgação)

À parte da relação entre os torcedores e os próprios clubes, o que mais me rouba a atenção é a relação entre os jogadores, porque é onde surge e se encerra o imponderável. Olimpíadas como as de Tóquio, de quatro em quatro anos, impõe, às vezes timidamente, outras energicamente, o debate sobre a cultura brasileira monoesportiva. Há vários argumentos para explicar o porquê o futebol é a modalidade mais popular, desde os mais cristãos até os mais promíscuos. Mas o futebol, por si só, é subjetivo.

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Confesso que, por exemplo, custei a admitir que havia discussão sobre a implementação do árbitro de vídeo. A princípio, parecia óbvia ceder à necessidade de um equipamento sob a égide da justiça e, em suma, por objetividade, já que “mínima interferência, máxima eficiência”. Mas o cotidiano já é modorrento o suficiente pela perseguição incansável à racionalidade. Mais do que qualquer outra modalidade, o futebol é, sobretudo, uma manifestação cultural. É feito de encontros e desencontros. Por isso, racionalizá-lo me parece um fetiche patológico.

Nem o mais ferrenho comunista garantiria que a Seleção de 1970 seria campeã com João Saldanha assim como fora com Zagallo. Rogério Ceni, com praticamente os mesmos jogadores, simbolizou um Flamengo completamente distinto do de Jorge Jesus. O Atlético de Nacho Fernández, Jefferson Savarino, Eduardo Vargas e Hulk poderia ser blasé sob o comando de Jorge Sampaoli. Não há tempo para encontros e desencontros. Tampouco para reencontros. Assim como a vida, hão há por que perder tempo tentando explicar o futebol.

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