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Ronaldinho é uma caricatura do que fora

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Qualquer criança asseguraria, há 15 anos, do alto dos seus poucos anos de vida, que dificilmente veria jogador como Ronaldinho Gaúcho. Não era uma percepção meramente pueril. É que dentro de campo Ronaldinho era tão genuíno quanto qualquer criança. O meia ludibriava adversários como as crianças ludibriam os próprios pais. Fazia com a bola, diante de 90 mil pessoas, o que qualquer criança queria fazer em ruas asfaltadas com paralelepípedos. Porque os pés de Ronaldinho transpareciam, peculiarmente, como os de Mané Garrincha, o gozo do futebol brasileiro em sua essência. Ronaldinho, como as crianças e como Mané, não tinha esteio algum.

Ronaldinho abusava do instinto quando dele cobravam racionalidade. Como qualquer artista genioso. Em poucos metros, sentia-se confortável. Em muitos, apenas livre. Contrariava todos os prognósticos. Mas ele não era genioso. Era afável. Se terminava nas redes, abria um sorriso de dentes tortos tão espontâneo quanto tímido. Como qualquer criança. Ronaldinho foi por sete anos um fenômeno a gosto de Champs-Élysées e da Maré. No entanto, num dia, caiu em desgosto. Noutro, em descrédito. E, no último, em ironia. Tão aleatória quanto as suas aparições mais recentes.

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Ronaldinho rodou o mundo em jogos festivos e amistosos beneficentes antes de anunciar a aposentadoria. Antes do próprio saber todos já sentenciavam o fim de sua carreira. Bem da verdade, era nítido que os seus interesses já fugiam aos campos. Mas Ronaldinho, aparentemente, continua a ludibriar. Ou a tentar ludibriar. Ronaldinho, por fim, é uma caricatura do que fora. O advogado Adolfo Marín lhe taxou de tonto. Ainda que em contexto distinto, Marín disse, explicitamente, como todos veem Ronaldinho já há algum tempo. Como o ex-jogador quer que os vejam há algum tempo. Que a sua genuinidade seja transformada em condescendência.

Mas, ingênuo, Ronaldinho filiou-se ao Republicanos. Ingênuo, foi condenado a pagar multas próximas a dez milhões de reais por construções em áreas de preservação ambiental. Ingênuo, teve o passaporte retido. Ingênuo, mesmo com o passaporte retido, aceitou o título de embaixador turístico do Brasil do governo de Jair Bolsonaro. Ingênuo, utilizou documentos adulterados para entrar no Paraguai. Ingênuo, atravessa a terceira noite em um complexo penitenciário em Assunção. Ingênuo, mesmo detido, distribui autógrafos a crianças achando ainda ser uma. Achando ser eternamente condenado à tutela de Assis.

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