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Bênção

Foto: Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação

Foto: Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação

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Ungido por Marco Polo del Nero, Rogério Caboclo será, nesta terça (9), empossado como presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Candidato único em eleição realizada há um ano, Caboclo é, desde 2001, fiel escudeiro de del Nero. À época, ingressara na Federação Paulista de Futebol (FPF) — presidida, então, por del Nero — como diretor financeiro. Dos 141 votos possíveis do colégio eleitoral, Caboclo conquistou 135. Articulada por del Nero, a eleição mantém a CBF nas mãos do alto clero da entidade. João Havelange, Ricardo Teixeira, José María Marin, Marco Polo e, por fim, Caboclo.

Atual presidente, Antônio Carlos Nunes, coronel reformado da Polícia Militar do Estado do Pará, é testa de ferro. Assumiu a presidência da CBF, interinamente, após a suspensão, em dezembro de 2017, de del Nero, indiciado por corrupção, formação de quadrilha e enriquecimento ilícito. Desde a prisão, em maio de 2015, de seu padrinho político José María Marin, del Nero, curiosamente, transita somente no território brasileiro. Como se sabe, a extradição de cidadãos brasileiros é, constitucionalmente, vetada. Como diz Juca Kfouri, del Nero é o Marco Polo que não viaja.

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Válido até 2023, o mandato de Rogério Caboclo é, para Marco Polo del Nero, o rito final de um movimento fundamental à manutenção de seu capital político. Em 2014, quando del Nero era, então, vice de Marín na CBF, levou Caboclo para a entidade como diretor-executivo. Trabalhava já a sua sucessão, pois. Dois anos antes, Rogério Caboclo assumira funções no Comitê Organizador Local da Copa do Mundo do Brasil. Atualmente, acumula a chefia do Comitê Organizador Local da Copa América de 2019, a ser também realizada no Brasil.

Embora tenha sido banido do futebol pelo Comitê de Ética da Fifa, del Nero arquitetou a eleição de Rogério Caboclo depois de marginalizar possível articulação dos clubes para oposição. Em assembleia, aprovou a mudança do peso dos votos das federações estaduais de futebol na eleição presidencial da CBF. Ora, dependentes financeiramente da confederação, as federações seriam, desde que se unissem em torno da candidatura de Caboclo, responsáveis pelo pleito. Com peso menor, os votos das agremiações das séries A e B do Campeonato Brasileiro, somados, permaneceriam abaixo daqueles somados pelas 27 federações.

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Ao fim da ópera, desarticulados como são, 37 dos 40 clubes aclamaram a eleição de Caboclo junto a todas as federações. Apesar de já presidir a CBF nos bastidores, Rogério Caboclo tem, nos próximos quatro anos, uma porção de discussões a mediar e tantas outras medidas a tomar para intervir nos problemas crônicos das modalidades masculina e, sobretudo, feminina. Entretanto, a bênção à del Nero foi tomada e, certamente, o sistema feudal seguirá em operação para garantir a sucessão em 2023.

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