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Resquícios do Condor

Emilio-Médici-Copa-1970-Reprodução

Foto: Reprodução

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Em 1º de abril de 1964, João Havelange já era presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) há seis anos. A ele pouco significava a deposição de João Goulart após o golpe militar. Articulado, transitaria, inicialmente, sem maiores dificuldades na alta cúpula da ditadura; suas intenções eram escusas, afinal. Havelange alinhou-se aos ditadores Humberto Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Garrastazu Médici e Ernesto Geisel até 1975.

Em 1971, em consonância com o projeto de integração nacional, Havelange e Médici estruturaram a primeira edição do Campeonato Brasileiro como tal, ainda que sem agremiações do Norte e do Centro-Oeste. A cada edição, entretanto, novos clubes eram absorvidos. Diziam, à época, que “onde a Aliança Renovadora Nacional (Arena) ia mal, mais um clube no Nacional”. Nas urnas, a emergência do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) simbolizava a insatisfação popular com o regime ditatorial.

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Geisel, em 1974, foi empossado. Assim como o antecessor Médici, concebia o futebol como instrumento político fundamental à manutenção do regime de exceção. As intervenções na CBD, portanto, eram mais fortes. Em um ano, Havelange, pressionado, rumou à Fifa como presidente. Ao contrário de Sylvio de Magalhães Padilha, chefe do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) entre 1963 e 1990, Havelange foi submisso. Padilha, major reformado do Exército e contrário ao regime ditatorial, tirou da cadeia amigos do Partidão, embora de comunista não tivesse nada.

O almirante Heleno de Barros Nunes, então líder da Arena, sucedeu João Havelange na presidência da CBD. Militarizou a entidade, além de fortalecer as federações estaduais. O modo como o futebol brasileiro hoje opera foi forjado durante a ditadura. Capitaneado para manter um projeto totalitário e, sobretudo, sanguinário. E os resquícios da Operação Condor ainda se perpetuam. De José Maria Marín ao coronel Antônio Carlos Nunes de Lima.

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Filiado à Arena entre 1966 e 1979, Marín presidiu a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) entre 2012 e 2015. Vereador e, posteriormente, deputado estadual, Marín foi, ainda, vice de Paulo Maluf no Governo do Estado de São Paulo entre 1979 e 1982 em mandato biônico. Já Nunes de Lima, presidente interino da CBF desde 2017, fora prefeito biônico de Monte Alegre (PA), entre 1977 e 1980. A história é instrumento de disputa; há de se reivindicar sua memória e lutar por significados.

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