Há tempestade depois da bonança

Por Conjuntura e Mercados

23/11/2021 às 07h00 - Atualizada 22/11/2021 às 17h18

A balança comercial brasileira fechou a segunda semana de novembro com superávit de US$ 58,72 bilhões no acumulado de 2021. Esse resultado veio após um aumento de 36% nas exportações e de 38,1% nas importações em comparação com o mesmo período do ano passado.

O aumento das exportações foi condicionado pela elevação no preço internacional das commodities – como minério de ferro, soja, carnes e petróleo – que representaram 69,7% das vendas externas brasileiras no período, bem como pela desvalorização do Real (R$).

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O desempenho das importações, por sua vez, também passou a ser influenciado pelo aumento dos preços dos bens trazidos de fora do Brasil. Destaca-se – tanto no caso das exportações quanto das importações – a contribuição dos setores de agropecuária, indústria extrativa e indústria de transformação.

É possível afirmar, portanto, que a balança comercial brasileira vem apresentando bons resultados, podendo alcançar um superávit de US$ 70 bilhões no acumulado de 2021, de acordo com o último Boletim Focus.

As boas notícias, contudo, podem durar pouco tempo. De acordo com o Barômetro de Comércio de Mercadorias – relatório divulgado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) – o comércio global está em desaceleração.

O cenário tem origem na crise de abastecimento que vem sendo enfrentada por diversos setores da economia mundial, resultado da combinação entre a interrupção das cadeias produtivas e a menor disponibilidade de recursos energéticos. Tais fatores se somaram ao forte aumento na demanda por mercadorias, levando à escassez de bens amplamente comercializados – como no caso dos automóveis e dos semicondutores.

O resultado tem sido o congestionamento de portos e o aumento das tarifas dos fretes marítimos. Como cerca de 80% do comércio mundial é feito pelo mar, os gargalos nos portos levaram ao aumento dos embarques de mercadorias por via aérea e o consequente encarecimento dos custos logísticos. A crise ameaça a recuperação da economia mundial e pode continuar pressionando a inflação em diversos países.

No Brasil, o aumento dos preços internacionais tem pressionado a inflação e anulado as vantagens comerciais de um câmbio desvalorizado, que vinha deixando os produtos nacionais mais baratos no exterior e estimulando as exportações. A tendência é que a união dos fatores internos e externos – acrescidos do novo aumento no número de casos de Covid-19 na Europa – reduzam os ganhos na balança comercial e deprimam as projeções para a atividade econômica brasileira em 2022.

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Por Mylena Carvalho e Rafael Teixeira

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