Bia Ferreira e Gabriel Geraldo: o suor e o sonho de esperanças do Brasil em Tóquio

A 150 dias dos Jogos, pugilista e nadador intensificam trabalhos por vaga olímpica


Por Bruno Kaehler

25/02/2020 às 07h00

O carnaval de Beatriz Ferreira e Gabriel Geraldo é no ringue e na piscina, respectivamente. Passada a folia no país, a dupla seguirá intensificando o trabalho com foco na participação do evento esportivo mais importante do planeta em suas modalidades: os Jogos Olímpicos de Verão. A exatos 150 dias de Tóquio 2020, Bia e Gabrielzinho, como são popularmente chamados, são duas das principais esperanças de medalha do Brasil no boxe e na natação.

Tanto é que a presença da dupla em Juiz de Fora será extremamente dificultada pelos compromissos profissionais. Os dois passarão os meses que antecedem a abertura da Olimpíada e dos Jogos Paralímpicos cercados de competições e treinamentos especiais para garantirem a vaga no evento do Japão e realizarem um dos sonhos de qualquer atleta no mundo.

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“Estou treinando em São Paulo, na seleção, e desde janeiro, quando voltamos às atividades, fizemos uma viagem para a Bulgária e agora estamos na Colômbia, treinando na altitude, em uma base de treinamentos. Por isso não consegui ir em casa ainda, mas este deve ser o foco e assim que der vou para JF. Sei que estou aqui por um objetivo. Mas já estou até com saudades”, conta Bia.

Uma das principais esperanças de medalha, Bia venceu quase todas as competições que disputou em 2019 (Foto: Pedro ramos/rededoesporte.gov.br)

Para representar o Brasil no Japão a partir de julho, os caminhos são diferentes. A participação de Gabriel – portador de focomelia, uma síndrome congênita caracterizada pela má formação de braços e pernas – na Paralimpíada pode ser assegurada primeiro, apesar de o evento em Tóquio começar depois – em agosto. Entre os dias 9 e 23 de março, ele tentará atingir índice técnico exigido para obter a vaga durante o Open Internacional Loterias Caixa de Atletismo e Natação 2020, no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo (SP). Já Bia estreia na temporada oficialmente no Pré-Olímpico das Américas, agendado para ocorrer a partir do dia 24 de março, na Argentina. O torneio, como o nome já antecipa, contemplará aos vencedores a ida para Tóquio 2020, com abertura programada para o final de julho.

Pódio, hino e medalha do boxe brasileiro

Subida ao topo do pódio, mão e medalha no peito, corpo direcionado à bandeira brasileira e, ao fundo, o hino nacional executado para todo o planeta. Certamente este cenário já preencheu as noites de descanso de Bia e Gabriel. “A vaga olímpica é, sem dúvidas, um sonho. É o evento mais alto que um atleta olímpico pode participar. Vai ser incrível e estou bem ansiosa. A vaga vai ser o penúltimo patamar que venho almejando na carreira, porque o último mesmo vai ser estar lá no alto do pódio ouvindo o hino do meu país com uma medalha no peito”, deseja Bia.

Aos 27 anos, a atleta baiana, mas que mora em Juiz de Fora há quase 15 temporadas, se esforça ao máximo diariamente no que diz ser a época mais esperada de sua carreira. “Treino desde 2017 pensando nos Jogos Olímpicos de 2020”, reforça.

Filha do ex-pugilista e atualmente professor de boxe, Sergipe, a atleta da seleção representou como poucos o país nas principais competições dos últimos anos. Como exemplos recentes estão os títulos inéditos do Pan-Americano de Lima, no Peru, e do Mundial de Boxe, na Rússia, ambos no ano passado e pela categoria até 60kg. O sucesso da boxeadora radicada em Juiz de Fora rendeu, ainda, o Prêmio Brasil Olímpico 2019, uma das maiores honrarias do país aos esportistas que se destacam durante o ano.

As conquistas reforçaram a confiança de Bia, que não vê a hora de oficializar o status já recebido de atleta olímpica pelo histórico recente vitorioso, com domínio em sua categoria (até 60kg). “Bate uma ansiedade de querer garantir logo essa vaga, mas estou tranquila de que venho fazendo o trabalho certo. Tenho que pensar bem positivo, de que vamos para Tóquio. Venho com um bom saldo e quero manter isso. Fico ansiosa, claro, é a competição mais importante para um atleta olímpico, mas preciso manter o controle e o foco para que essa ansiedade não atrapalhe. Todo mundo quer que chegue logo, mas também quer treinar mais e se preparar completamente para os Jogos. Acho que o boxe brasileiro vai mandar muito bem”, projeta Bia.

2020 de mudanças pelo sucesso

Um recorde mundial, dois nacionais e cinco medalhas somente nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, em agosto último. A performance de Gabriel Geraldo, nadador do Clube Bom Pastor, no Peru, já ajuda a entender o tamanho do potencial do paratleta de apenas 17 anos. Nascido em Santa Luzia (MG), ele morava, até o início deste ano, em Corinto (MG), município localizado a mais de 450 quilômetros de distância de Juiz de Fora, onde passou a residir com o apoio ainda mais próximo do treinador Fábio Antunes e demais profissionais da equipe local.

Nos 200m livre, em 2019, Gabriel Geraldo registrou marca quase 15 segundos abaixo da necessária para ir a Tóquio 2020 (Foto: Alê Cabral/CPB)

“A minha proximidade com o treinador e também com a equipe multidisciplinar do clube fez o monitoramento do meu trabalho ser mais constante e regular. Os treinos funcionam de segunda até sábado, em um período de duas horas dentro da água. Também tenho fortalecimento muscular e de potência quatro vezes por semana, fisioterapia em dois dias e acompanhamento nutricional, psicológico e médico. Tudo isso para que eu nade cada vez mais rápido”, relata Gabriel à Tribuna.

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E se manter o nível já representará ao atleta uma vaga em Tóquio 2020, imagine nadar mais rápido. Convocado em janeiro pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para integrar a seleção brasileira nas próximas competições, Gabriel irá buscar o índice técnico para Tóquio em março, pelo Open em São Paulo. Se ele repetir a marca de 4min38seg36, de 2019, nos 200m livre, na classe S2, terá atingido com folga o tempo necessário para carimbar o passaporte para o Japão, de 4min52s46. “Esta vai ser a competição mais importante da minha carreira porque irá realizar meu sonho”, destaca.

Antes de mergulhar pela competição em território paulistano, contudo, ele, em plenos dias de folia, embarcou para a Itália, visando a disputa de outro Open. “Vivenciar competições internacionais é sempre bom por conta do ambiente e por me fazer acostumar com novos hábitos. E também posso testar algumas coisas para chegar no Open São Paulo voando”, analisa Gabriel.

Certo é que cada ocupação nestes meses servirão também como um tratamento à tensão pré-vaga e Paralimpíada. “A ansiedade chega, é normal, mas vem sendo controlada para não atrapalhar meu desempenho na água. Que eu possa chegar nas paralimpíadas, um sonho de criança.”

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