Painel 05-10-2016

Por Michele Meireles

05/10/2016 às 07h00 - Atualizada 04/10/2016 às 19h22

Lições das urnas

Enquanto os candidatos finalistas se preparam para mais um embate, a leitura dos números de domingo serve de parâmetro para várias considerações não apenas em torno do comportamento do eleitor mas também do cenário político. Tão logo se consolidou a vitória do empresário João Dória, em São Paulo, já no primeiro turno, embora, em tese, ele seja um outsider da política, o discurso se voltou para 2018, destacando o fortalecimento do governador Geraldo Alckmin na disputa interna do PSDB para a Presidência da República. Ele teria saído na frente em relação ao senador Aécio Neves, o último grão tucano testado nas urnas. Para o cientista político Rubem Barboza, Alckmin, de fato, saiu fortalecido não apenas por emplacar Dória mas também por vencer em outras cidades importantes de São Paulo. “E ele certamente ganhou musculatura, até pela interpretação da mídia, que sempre deseja um vitorioso e um perdedor imediatos. No entanto, além das observações precedentes – especialmente os 40% de votos esterilizados -, é preciso perceber que Dória foi obviamente o destino de um voto útil antipetista.”

Menor impacto

Um  dos poucos cientistas políticos a serem convidados a repassar suas impressões para os membros da comissão especial da reforma política, o professor Rubem Barboza, titular de uma das cátedras da UFJF, observa que a distribuição de prefeituras por partidos parece sempre ter mais impacto nas eleições para deputado estadual e federal do que para a Presidência da República, e até mesmo para os governos estaduais. “Sem dúvida, o enraizamento dos partidos ao nível dos municípios não é irrelevante, mas vamos lembrar que já elegemos presidentes como Collor, Fernando Henrique e mesmo Lula sem que os seus partidos controlassem a maioria das prefeituras.”

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Coerência

O professor não descarta o papel das composições no processo político. “Evidente que as coligações foram importantes, e são. Mas isso pertence à política, não necessariamente ao controle das prefeituras.” Na sua avaliação, o controle das prefeituras poderia ser importante se o país tivesse um sistema partidário dotado de um alto grau de coerência e representatividade, “mas isso não parece ser a situação atual do sistema representativo”. Para ele, quando se tem um percentual de 40% de eleitores que se abstiveram ou votaram em branco ou nulo, está claro que as coisas não estão bem. “Ao contrário, o que temos é um sistema em crise e um claro desencanto com a política.”

Efeito PT

Rubem também considera que o Partido dos Trabalhadores foi o grande derrotado nas eleições, pois viu cair drasticamente o número de prefeituras sob seu controle. Isso, no seu entendimento, implica outras discussões. “Ele, agora se encontra frente a alguns dilemas pesados. Por exemplo: para compensar esta queda vertiginosa, ele deve ter um nome nacionalmente forte para 2018. Mas quem seria? Lula? Isso já não é seguro mesmo para ele. O PT tem este nome nacional? Se não tem, poderá optar pela estratégia de frente de esquerda, com Ciro? Mas isso não seria se condenar à condição de um partido médio, com um protagonismo muito menor?”

Michele Meireles

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